colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Governos de 'coalizão'

09/05/2020 - 10:01

ACESSIBILIDADE


O fim da ditadura de 64 só foi possível por duas coisas: o então presidente Figueiredo não queria o indefectível Maluf na presidência da república e a outra, por esgotamento do modelo político vigente que permitiu a Ulisses e Tancredo Neves (mais este) costurar apoio na antiga Arena que findou por indicar Sarney, o ex-presidente da legenda, para ser o vice de Tancredo na eleição indireta no colégio eleitoral. 

Seria aquele pacto entre os emedebistas de oposição moderada ao governo de então com os também moderados arenistas (que futuramente criariam o indefectível Centrão) que iria governar no pós-regime ditatorial, com o compromisso da redemocratização do país. 

Tancredo morreu antes de assumir e Sarney, frágil politicamente, inaugurou o modelo de governo de coalização loteando seu governo para os mais diferentes grupos que o apoiava. Uma tragédia anunciada que nos legou hiperinflação, alguns planos salvacionistas que deram com os burros n’água, e uma moratória da dívida que até hoje provoca resquícios na banca internacional.

Ao final, isolado politicamente, desmoralizado pelos insucessos, sequer teve condições de apoiar um candidato para defender seu governo nas eleições presidenciais que elegeram Collor de Melo. É sempre assim, o final das “coalizões”. Os espertos que sugaram tudo já partiram de malas arrumadas para o próximo poderoso de plantão.
O modelo Collor inicial em grande parte lembra o bolsonariano. Promessas mil que nunca aconteceram, isolamento político, tentativa de formar mais um governo de coalizão (ao final, todos o abandonaram quando ficou claro que estava chegando outro poderoso ao plantão presidencial).

Com FHC não foi diferente. Fez um primeiro mandato primoroso e nos legou o Plano Real, esse uma realização marcante, importante, mas incompleta (faltou-lhe a “perna” fiscal) mas, ao entrar em negociatas para um segundo mandato armou para si, a mesma arapuca de Sarney e Collor. Mais um governo de coalizão. Deu no que deu. 

Também isolado politicamente, assistiu a saída do seu partido do poder para dar lugar ao petismo.
Que prometia mudar tudo em termos de moralidade administrativa, desenvolvimento econômico, aumento da renda e por aí vai. Mas nos legou a maior crise econômica que este país até então havia vivenciado, a maior corrupção politico-financeira do planeta e um país literalmente quebrado. E qual era o modelo político? Governos de coalização.

Bolsonaro eleito pelo voto de protesto do povo contra a política tradicional e os políticos que nela militam, revelou-se uma surpresa ao indicar Sérgio Moro para cuidar do combate a corrupção, ao crime organizado e à violência. E Paulo Guedes como seu “posto Ipiranga” na economia encarregado de promover as mudanças há tanto esperadas no nosso modelo econômico. 

Mas logo se viu que aquilo lá era só uma jogada para “enganar besta”. Seu atormentado governo, as disparatadas decisões, a tentativa de encobrir as falcatruas do filho senador, as suspeitas relações com as milícias Rio de Janeiro, o comportamento psicótico, instável e inseguro, as brigas sem sentido com o Congresso, com o Supremo e vários outros “inimigos” criados por ele, o negacionismo na crise do Coronavírus, as demissões de dois ministros super populares por inveja e despeito, o estão politicamente levando à lona. 

Isolado, ameaçado por processos – que andam rápido – ensaia uma adesão tardia ao famigerado governo de coalizão, com seus antigos parças do PP, do PTB e de outros partidos, tão ou mais mal afamados que aqueles. Formam o também mal afamado Centrão que sobrevive à custa do roubo da frase de São Francisco de Assis: “é dando que se recebe” (sic!). Sintomático.

É uma tentativa desesperada de se proteger do impeachment que está no seu cangote como se fala no Nordeste. Mas não irá longe essa sua pretensão. No momento em que o Centrão farejar o futuro novo dono do poder, vai correndo de mala e cuia para garantir seus espaços no governo que chega. E Bolsonaro, bem ficará como os outros presidentes de governos de coalizão, a ver navios. Sem poder e abandonado com seus desvarios.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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