colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Hora de pressionar o BC

08/05/2020 - 15:26
Atualização: 08/05/2020 - 15:29

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Há cerca de 45 dias aventamos aqui da possibilidade da SELIC, a nossa taxa básica de juros, se tornar negativa na reunião que o Copom – Comitê de política monetária do BC realizaria em Maio (aconteceu na quarta-feira). Mas ainda não foi dessa vez. Com a redução de 0,75%, a taxa real de juros brasileira alcançou agora 0,28%. 

Mas há espaço para mais redução (e o BC deixa isso implícito em sua comunicação ao mercado da decisão de ontem). Mesmo com a redução de ontem que – insisto – foi tímida, já que é papel do BC num momento como o que estamos vivenciando avançar na política de juros para ajudar a economia em choque de oferta e demanda a ter algum alento. Mas, como sempre, fala mais alto os interesses dos bancos, corretoras e rentistas, sempre beneficiados – estranhamente – com os maiores juros do mundo. 

Com a redução da SELIC, nossa taxa de juros ainda continua uma das mais altas do planeta. Na verdade a 8ª mais alta. Com o consumo despencando, a renda caindo fortemente, o desemprego aumentando e a economia em marcha ré, não vejo nenhuma razão para a insistência na manutenção de juros altos em prejuízo de todos (menos dos mesmo de sempre).

Todas as demais economias importantes do mundo já estão praticando juros zero ou negativos. Taiwan com -3,98%, Polônia com - 2,62% e Reino Unido com -2,46% são os países com as menores taxas praticadas neste momento.

O momento que o país está vivendo pede, exige, crédito farto, dinheiro a disposição do setor produtivo para se assegurar durante e após a epidemia; A cobertura da queda de receita dos Estados e Municípios; A liberação de recursos para a população desassistida e a desempregada, enfim, demanda que o BC monetize fartamente a economia.

Embora no comunicado ao mercado o banco tenha tocado no assunto “a conjuntura econômica prescreve estímulo monetário extremamente elevado”, tema que, aliás, tratamos aqui durante esta semana, isso ainda não aconteceu. Temo que o “remédio” esteja sendo ministrado de forma muito regrada para um “doente” em fase avançada de seus problemas. 

Estamos com forte deflação à vista. É preciso que o BC acelere o pé na tomada de decisões cruciais para o que vai acontecer logo a frente. Não é hora de preciosismos técnicos, menos ainda de indecisões “fabricadas” que beneficiam uns contra todo o restante da Nação. Não é com redução de juros que iremos levantar a economia, mas ajuda. Por isso meu inconformismo com a redução tímida das SELIC.

O que vai ajudar e não vejo definitivamente sinais claros nesse sentido, é hora do BC atuar forte e fartamente na irrigação da economia. Sem esse oxigênio, muitas empresas vão fechar as portas, o desemprego aumentará ainda mais, a crise que já é grave se tornará quase ingovernável. Já não cabem mais palavras bonitas num comunicado ao mercado. É hora de agir. O projeto de emenda a Constituição 10/20 lhe dá as bases legais e as ferramentas para isso. 

É preciso pressioná-lo, senão, no final, salvam-se os mesmos e aqueles que são amigos do rei. O que nem é democrático e tampouco ético.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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