colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

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Irresponsabilidade social

04/05/2020 - 13:00

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Mesmo com quarentena circulação de pessoas aumenta
Mesmo com quarentena circulação de pessoas aumenta

Países que levaram a sério as recomendações da OMS (como Alemanha, Coreia do Sul e Cingapura) desde o início desta pandemia, estão tendo resultados bem mais auspiciosos que aqueles que demoraram a acordar para a realidade como Inglaterra, Espanha, França ou EUA.

Mesmo assim, por conta da reabertura das atividades comerciais adotadas, mesmo paulatinas e programadas, já começam a falar em voltar a adotar novas medidas restritivas de isolamento social dada a tendência de recrudescimento da epidemia em seus países.

Espanha, Itália, França e Estados Unidos, com desempenho pior que aqueles 3 países, tiveram brutal número de óbitos (supera a casa dos 130 mil). Agora, que mal começam ver a curva de contágio regredir, falam em relaxar a quarentena. Se bobearem por conta de pressões, não só terão que voltar a fechar tudo, como amargar crise econômica bem maior que a esperada.

A Inglaterra – que é do time dos 4 países citados – cujo primeiro ministro teve o Coronavírus, já avisou que irá demorar a reduzir a quarentena. Sábia decisão. Talvez por conta da experiência do Sr. Boris Johnson com a epidemia.

O Brasil já faz parte dos 10 países com maior número de mortes e crescendo (embora esse número esteja subdimensionado, segundo infectologistas que estudam o problema). Por falta de testagem, eles, de fato, devem estar muito aquém do real (apenas como referencial: em São Paulo dobrou o número de pessoas mortas em casa após a chegada da Covid-19). 

No país, o número de contaminados e de óbitos aumenta aceleradamente a cada dia. Na próxima semana o número de óbitos deve dobrar a cada 4 dias. Desempenho pior que o da Espanha, que no auge da crise dobrava os óbitos a cada 5 dias. 

Por aqui o “navio” do SUS já está fazendo água. E em 5 Estados, à beira do precipício, operando com quase 100% da sua capacidade. E ainda não alcançamos o pico da curva de infestação. Estamos para ver aqui - e de forma ainda mais aguda - tragédia pior que a da Itália.

A taxa de isolamento social brasileira começou beirando os 70%. Agora não alcança 50%. Fruto da pressão irresponsável do presidente da República que só pensa “naquilo”: sua reeleição e o resto que se exploda. Aliás, na terça-feira, instado sobre o aumento do número de mortes, mostrou sua grande “preocupação” com a população brasileira: “E daí?” Respondeu.

Pressão que também vem de certos grupos de empresários que acham que irão “salvar” seus negócios com a estapafúrdia liberação das pessoas para circular. A variável econômica está dada: teremos recessão brutal. E em períodos recessivos quebram. É a regra. Não será a suspensão da quarentena que irá salvá-las. Ademais, todas têm à disposição auxílio governamental para este período mais agudo da pandemia. A questão econômica não é a prioridade agora.

A suspensão das restrições – mesmo que parcial – por governadores e prefeitos que titubearam frente à coação presidencial tem um preço que a sociedade já está pagando. Coincidência ou não, duas semanas após o auge das pressões, os índices de isolamento caíram quase 30%, a curva de contágio acelerou e o número de óbitos cresceu geometricamente. 

Se a tendência for mantida, o efeito de seus atos será o contrário: terão que voltar atrás para “consertar” a barbeiragem que estão cometendo com irrefletida liberação da quarentena.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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