colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Indecisões para todo lado

04/05/2020 - 11:17

ACESSIBILIDADE


O Brasil nos últimos 20 anos passou por nada menos que 19 crises econômicas que levaram o país até onde se encontra atualmente. Como diria o frasista: Desse jeito ninguém (nenhum país) aguenta. Pura verdade.
E não são “quedinhas” como diria o presidente, são “quedonas”. Especificamente no caso de recessão no Brasil, a queda média do IBovespa no período girou em torno de 26%. Agora, se a recessão tiver sido global, o mesmo índice caiu 52% em média!

Este ano estamos caminhando para uma recessão interna e mundial, com números que assustam. Uma queda do PIB nacional de até -20% e do PIB mundial de -3%. Estudo recente do IBRE/FGV registrou que 38% dos países pobres e emergentes tiveram retração em seus PIB na crise de 2008 (mas, ainda assim, ajudados pela recuperação chinesa naquele ano, o conjunto de pobres e emergentes logrou obter crescimento do 1,1% no PIB).
Na crise da Covid-19, a coisa é bem mais grave: 100% dos países terão queda no PIB. E não haverá a “ajuda” do crescimento chinês como em 2008, já que a nação do Sol Nascente deve ter crescimento próximo de 1% este ano.

O Brasil que até agora não havia se recuperado do baque de 2008 - que o Lula disse que era uma “marolinha” (alguém aí se lembra da “gripezinha”?...) viu seu PIB em 2009 retroceder em 0,1%, número igual à redução global daquele indicador. Mas agora a pancada é bem maior. 

O FMI estima que o PIB mundial tenha desempenho negativo de -3%. Sua projeção para o Brasil é -5%. Mas o órgão projeta que a economia global volte a crescer no segundo semestre, enquanto outros estudos são reticentes em relação a essa possibilidade. E se essas outras entidades estiverem certas, o índice brasileiro pode ficar até entre -14,5% a -20%.

Índices inauditos sob todos os aspectos, altamente nocivos para a economia, uma tragédia para a população e, certamente, fonte segura de instabilidade política. Muito mais que o momento que já vivenciamos.

Além disso, as duas enormes crises recentes, a de 2008 e o tsunami petista, ainda não haviam sido absorvidas pela economia brasileira quando sobreveio o Coronavírus. E isso deixa o país em desvantagem para tracionar o seu crescimento no pós Covid-19.

Acrescente-se ainda o que pouca gente vem dando crédito: a crise dos combustíveis - que já está dada - irá afetar de forma direta países como Brasil, Rússia, Venezuela, México e outros em desenvolvimento, embaralhando ainda mais a já difícil retomada econômica daquelas nações. Nosso país vive o que um astrólogo poderia designar como o seu inferno astral...

As estimativas em relação aos países desenvolvidos é que passada a fase aguda da crise, por suas estruturar internas muito mais robustas (em relação aos demais países), por seu nível alto de renda (mesmo com desemprego de início, a recuperação dos postos de trabalho se dará em 2 a 3 anos) e pelo maior espaço que têm para produzirem resultados via política fiscal, por exemplo, já a partir de 2021, eles retomam, em nível menor claro, os seus respectivos ritmos de crescimento.

O aprendizado mundial com a crise financeira de 2008 é uma variável importante nas etapas mais agudas da pandemia. E os países estão fazendo a lição de casa com medidas heterodoxas para ajudar a controlar a economia nesta etapa. Sairão mais rápidos da crise aqueles que foram mais ágeis e eficazes na alocação dos recursos.

Mas não se pode deixar de ressaltar que a crise atual é, em sua essência, bem diferente daquela de 2008 (que foi financeira). Agora, o mundo assiste atônito a algo inédito: uma queda abrupta da oferta e da demanda, simultaneamente. E ainda está tateando em busca da melhor solução para resolver esse novo dilema econômico.
Em 2008 foi a crise financeira que ameaçou o mundo. Agora é a paralisação da economia real que ameaça o lado financeiro.

É certo que a crise atual já está sendo muito maior que todas as anteriores nos últimos 90 anos. É certo também que todos estão tateando caminhos para a saída do imbróglio. Como também é certo que ainda não há um caminho comum definido. Está sendo um verdadeiro cada um por si.

E ainda tem altruístas por aí apregoando que nós vamos sair dessa melhores como pessoas. Países são governados por pessoas, e essas pessoas estão olhando diretamente para seus umbigos, para os seus problemas.
Disso aí não resultará nada de novo. Ou melhor.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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