colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Mais um alerta

29/04/2020 - 09:19

ACESSIBILIDADE


Não há o caminho. Ele se constrói no caminhar. Não sei quem é o autor, mas cabe bem com o espírito do artigo. Ao longo da minha vida profissional vivenciei algumas das mais graves crises políticas e/ou econômicas porque o país passou nos últimos quase 50 anos.

A quebra da economia nacional durante o governo Geisel, a moratória no governo Sarney, o impeachment de Collor, a roubalheira petista que quebrou o país de novo, o impeachment de Dilma Rousseff e agora, a magna crise provocada pelo Coronavírus. Sem qualquer dúvida, a maior, mais profunda e aquela que irá deixar graves sequelas na economia e na sociedade brasileira. Isso se fizermos o dever de casa direitinho.

Seu pico deve ocorrer entre 2 a 8 semanas, segundo o Ministério da Saúde (quando alcançar o pico serão em torno de 30 a 45 dias, até a curva de contaminação inflexionar e começar a cair). 

Estamos ainda há pelo menos 2 semanas do pico da epidemia e o sistema de saúde brasileiro – como vínhamos alertando - já está colapsando. O SUS está no limite de suas forças em termos de capacidade de atendimento da população.

E, por incrível que possa parecer continuamos – açodadamente – falando em flexibilizar as restrições da mobilidade social. As pessoas não estão entendendo a gravidade do que vem por aí. Mesmo se for mantida as restrições. Se não...

O que hoje é uma ameaça de colapso do SUS será uma realidade dentro de mais algumas semanas em todo o país. Manaus, Pará, Ceará, Pernambuco e Rio de Janeiro já basicamente colapsaram. E estados que até aqui vinham tendo poucos casos veem explodir os números de doentes com a Covid-19. 

A curva de infecção acelera por todo o país. Somos o país latino-americano com maior número de casos. O número de óbitos dobra a cada 10 dias e está acelerando. Já é mais rápido que o da Espanha (12 dias) quando se encontrava na fase similar à do Brasil hoje.

Com enorme diferença. A Espanha é rica e não existe, como aqui, aglomerados urbanos de sub moradias onde residem milhões de pessoas. Uma “atração” e tanto para o vírus. E lá, vimos pela TV, como foi terrível a fase mais aguda da epidemia com milhares de pessoas morrendo sem acesso aos serviços de saúde, colapso no recolhimento e enterro dos corpos, sofrimento generalizado.

Por que a pressa em voltar às ruas? As pessoas, todas - empregadas, desempregadas e informais - estão contempladas com ajudas diversas pelo governo para o período crítico da epidemia, as empresas micro, pequenas, médias e grandes empresas têm vários programas de ajuda governamental para acessar (precisa acelerar para chegar até elas). 

E a questão econômica pós Coronavírus está dada. Vamos enfrentar uma baita recessão. E numa recessão empresas mais frágeis quebram mesmo. Portanto, no momento não é essa a questão de fundo.

A liberação social não pode e não deve ser feita de forma açodada, sem planejamento. Se formos por esse caminho, podemos estar avançando para ter em nossas ruas e cidades, uma tragédia muito maior do que a da rica Europa, com pessoas morrendo à mingua por falta de atendimento. 

E ainda pior, a liberação levará ao recrudescimento do número de casos. Daí será necessária outra quarentena ainda mais dura que a atual. E nesse caso, a crise econômica que virá pós-epidemia será potencializada. O pior dos mundos.

Ou seja, além de uma terrível crise humanitária vamos ter que lidar com a maior crise econômica que este país jamais imaginou passar. E, podem crer, palavra de quem é “especialista” em passar por seguidas crise nas últimas 5 décadas: essa poderá ser a mais devastadora delas se descumprimos os regramentos da OMS.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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