colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

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A saída de Moro

24/04/2020 - 12:21

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Sérgio Moro
Sérgio Moro

A saída do diretor da PF delegado Valeixo, e a consequente desistência do ministro Sérgio Moro de permanecer à frente do Ministério da Justiça, não pode ser circunscrita a uma mera rixa pessoal do presidente com o delegado. Não foi isso. 

O que ocorre é que o presidente, ao invés de tomas medidas democráticas e saneadoras esperadas por todos, resolveu escrachar de vez a coisa e escancarar a pouca vergonha que está urdindo nos bastidores para evitar um improvável impeachment que só ele enxerga.

Ao trazer de volta ao proscênio político duas das figuras desta república mais identificadas e partícipes diretas de quase todas as falcatruas acontecidas nos últimos 35 anos nos diferentes governos deste país, ele sinaliza o rumo que vai dar ao governo. 

Os senhores Roberto Jefferson, presidente do PTB, e Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, e mais uma figura ainda não condenada porque nesse país de Macunaímas isso é coisa cada vez mais difícil, o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, que fará parte do trio ao qual se deve juntar logo, logo o Republicanos, do bispo Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus. Uma festa de gente bem intencionada!

Juntos, os 4 partidos, mais os dissidentes do PSL sob a tutela do presidente, somam número suficiente para impedir o andamento de qualquer pedido de impeachment. Teoricamente. (estamos cansados de saber como os votos dos deputados daqueles partidos são “volúveis”...)

A vinda desses sujeitos e de suas trupes altamente suspeitas bate de frente com a imagem correta do ministro Moro. Era preciso tirá-lo do combate. 

E a isso se soma a urgente necessidade de colocar um pau mandado na PF para “segurar” as investigações pelo Supremo das digitais dos filhos nas ações antidemocráticas do dia 21 de abril (quem não lembra do finado COAF que foi “escondido” na estrutura do BC para não facilitar as investigações do filho senador do presidente?), isso cai como uma luva e se mata dois coelhos (Moro e Valeixo) com uma única canetada em um deles. 

Acaba o “justiceiro machão” e entra em campo mais um presidente de “governo de coalizão” que sabemos muito bem a que serve. Ao notório Valdemar Neto foi-lhe entregue de mão beijada o Banco do Nordeste. Logo um banco! Vai ser uma festa!

Para o PTB de Jefferson está prometido a “ressurreição” do Ministério do Trabalho, antigo feudo petebista onde o deputado pintou o sete. O PP negocia parte do Ministério da Saúde, adivinhem qual. Certamente não é a que cuida da saúde das pessoas... E vai por aí o “novo governo”. O presidente deu um cavalo de pau na moralidade prometida e voltou-se de braços abertos aos partidos mais corruptos do Congresso.

Resta saber como ficarão suas “viúvas”, vivandeiras de quartel e a parte bem intencionada que acreditou na lorota do capitão até hoje. Vamos ver uma debandada.

Essa briga toda acontece em meio a maior crise sanitária que o cidadão comum jamais enfrentou. Abandonado à sorte nas portas das unidades do SUS – pela devastação de décadas de má gestão, desvios e falcatruas mil – incapaz de atender minimamente as suas necessidades.

O capitão demorou, mas finalmente mostra a sua verdadeira face. De um político menor que por uma dessas coisas do destino se elegeu presidente da República e, perdido e isolado politicamente por suas próprias iniciativas, volta aos braços de quem sempre o acalentou. O pior que existe na política brasileira.

É bom que lembremos que o ministro da Economia, Paulo Guedes, o czar da economia brasileira, também está na corda bamba. “Demitido” esta semana pela intervenção branca na sua área, ao ser surpreendido com um tal de Projeto Brasil, um programa de retomada do crescimento pós Coronavírus alinhavado sem o seu conhecimento. É outro com dias contados se essa gerigonça avançar.

À crise do Coronavírus, mortal e dilacerante para as famílias e a economia, soma-se agora, certamente, aquela que se prenuncia a maior tempestade política do país nos últimos anos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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