colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Autogolpe

21/04/2020 - 15:43

ACESSIBILIDADE


Em 1933 Hitler mandou em surdina incendiar o parlamento alemão e utilizou este fato para acusar os comunistas e dar um golpe que eliminou a democracia na Alemanha. O mundo sabe como isso terminou. No Brasil, na década 1930, Getúlio Vargas se utilizou do mesmo estratagema (acusar os comunistas de estarem preparando um golpe) para, ele sim, dar um golpe que resultou no Estado Novo, ditadura que durou intermináveis 9 anos.
Mais próximo, tivemos o golpe de 1964, novamente sob a égide da defesa do país da ameaça comunista - que desta feita era real e precisava ser sustada de fato. Só que a promessa de eleições democráticas um ano após a deposição de João Goulart foi “esquecida” por 21 anos. 

Mais recente ainda, vimos em 2015, na Turquia, o então presidente Erdogan “aproveitar-se” de uma tentativa de golpe (suspeita-se fortemente, engendrado por ele mesmo) para estabelecer um estado de emergência (nome disfarçado da ditadura por lá) que suprimiu direitos, persegue pessoas e acabou com a liberdade de expressão.
Aqui no Brasil Jânio Quadros, um personagem histriônico, mentiroso e golpista (lembra alguém?), então presidente da República, tentou o chamado autogolpe - quando o sujeito cria as condições para “que o povo peça a ele medidas mais duras contra alguma coisa previamente escolhida como inimigo”. Se deu mal. Renunciou (era a sua “arma” para o golpe) e ninguém chorou por isso. Tornou-se um pária politico, uma assombração viva até sua morte. 

Para surpresa de ninguém, o atual presidente da República vem, num crescendo, aumentando a sua peroração autoritária e golpista. No início de abril ele soltou essa “pérola”: “Estou esperando é o povo pedir mais, porque o que tenho de base de apoio são alguns parlamentares. Tudo bem, não é a maioria, mas eu tenho o povo do nosso lado. Eu só posso tomar certas decisões, o povo estando comigo”. Falava por maior pressão popular pela volta ao trabalho e pelo fim do isolamento. 

Mas para bom entendedor o recado foi mais que claro. Só não enxerga seu sonho golpista quem não quer. Domingo passado ele deu mais um passo à frente do seu insano intento, comparecendo a ato convocado por radicais de direita (sem o aval dele e de seu grupo do ódio palaciano?!) na porta do quartel general do Exército. Ato em que ele procurou mostrar que a instituição o apoiava na sua insanidade.

Seu virulento discurso político naquele ato antidemocrático que defendia a intervenção militar, ou seja, a volta da ditadura, em plena crise do Coronavírus no país, a mais séria epidemia dos últimos 80 anos no mundo, bem mostra sua total incapacidade de se sensibilizar pelo outro, algo típico da psicopatia. 

Sem sustentação política a seu governo no Congresso, com o Supremo (leia-se a justiça brasileira) a fechar-lhe as portas às suas arbitrariedades, e as instituições unindo-se em defesa do país, ele, sobe o tom e clama ao “povo” para se sublevar (certamente em sua defesa): “É agora o povo no poder. Vocês têm obrigação de lutar pelo país de vocês”. Isso dito em evento pró-ditadura.

E foi mais longe na sua loucura pensada: “Nós (ele) não queremos negociar nada”. “Queremos (ele) é ação pelo Brasil”, ou seja, gerar a instabilidade que ele tanto sonha – e tenta desde o início do seu governo - para aplicar um autogolpe.

Após enfáticas manifestações dos vários poderes da república em defesa da democracia e por admoestações internas dos militares que estão no seu governo, ele fez, mais uma vez, o que sempre faz quando tensiona a “corda” contra a democracia. Nega. Mentirosamente nega. Transfere para terceiros a “interpretação” negativa de suas falas. Mas avança mais um tanto em direção a seu único objetivo após estar isolado: promover um autogolpe. 

As instituições democráticas deste país precisam mais que repudiar, começar a tomar medidas concretas para dar um basta nesse perigo chamado Bolsonaro.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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