colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Rainha da Inglaterra

20/04/2020 - 10:44
Atualização: 20/04/2020 - 10:55

ACESSIBILIDADE


Os cemitérios de São Paulo abrem apressadamente mais covas, no de Vila Formosa, o maior da América Latina, os jornais noticiam que os enterros estão sendo feitos em cova rasa; no Rio se constrói às pressas mais 2 mil covas e o Comando Militar da 1ª Região realiza levantamento de quantas sepulturas estão disponíveis para receber os mortos do Coronavírus. Em Manaus os mortos convivem por 3 ou mais dias no mesmo ambiente dos pacientes graves da Covid-19 por falta de sepulturas. E ainda não chegamos ao pico da epidemia...

Ceará e Amazonas já esgotaram suas capacidades de receber doentes; no Rio de Janeiro a lotação se aproxima dos 90% dos leitos hospitalares, deve alcançar 100% no início desta semana; em São Paulo, a maior metrópole do país, o Hospital Emílio Ribas, referência para a epidemia, já está 100% lotado. País afora os números começam a mostrar a realidade do nosso sistema público de saúde. E ainda não chegamos ao pico da epidemia. Menos ainda aos 30 a 40 dias de duração que ela se manterá no alto da curva epidêmica.

O país perdeu cerca de 23 mil leitos públicos nos últimos 10 anos, segundo estudo da Confederação Nacional dos Municípios. Outro levantamento realizado há pouco pelo Tribunal de Contas da União dá conta de que 66% dos hospitais públicos se encontravam frequentemente ocupados e 36% deles operavam acima de suas capacidades. E que 77% daquelas unidades mantinham leitos desativados por falta de monitores, ventiladores e outros equipamentos médicos. Então, não tem mágica, isso não vai ser resolvido da noite para o dia. Muita gente vai morrer por falta de assistência. Pura e simplesmente. Infelizmente.

Mas isso não é tudo. 80% daqueles hospitais mantêm os leitos desativados também por falta de pessoal especializado e de mão de obra auxiliar insuficiente. E o que vocês acham que vai acontecer em plena epidemia, com esses profissionais trabalhando muito acima de suas capacidades, em boa parte sem os equipamentos mínimos necessários e – ainda por cima – com milhares deles afastados pela doença?

Para completar esse quadro caótico, vários pesquisadores sérios vêm divulgando os resultados dos seus estudos em relação à efetiva curva de contágio no país. E os números são bem diversos dos atuais 2.388. No mínimo entre 4 até 15 vezes maiores. Ou seja, entre 9.552 a 35.820 óbitos. É preciso estar preparado para o pior.

Não fosse a briga comprada pelo ex-ministro Mandetta e a situação poderia ser ainda pior. Especialmente se dependesse das vontades do presidente da República, cujo desejo único é desestabilizar a Nação para ele dar um golpe (aliás, hoje mesmo em reunião de 50 fanáticos na porta do quartel general do Exército ele em discurso defendeu excepcionalidades contra a democracia).

O seu “liberou geral” não é nada mais que isso. Para ele, o quanto pior, melhor, é pouco. Ele sabe que está isolado politicamente, sabe também que não vai ter mais colher de chá do Congresso e, tampouco, da justiça brasileira. Vai ficar lá de “rainha da Inglaterra” até acabar esse inferno de mandato. Sem obras, realizações, mas azucrinando a vida das pessoas de bem.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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