colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

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Só resta rezar

17/04/2020 - 09:45

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AFP
População está 'mascarada' contra o vírus
População está 'mascarada' contra o vírus

Estamos nos aproximando do pico da epidemia do Coronavírus no Brasil que deve acontecer entre o final de abril até junho. E, por conta da irresponsabilidade do presidente da República e sua pressão contra as orientações da OMS, do seu próprio Ministério da Saúde, a opinião de todos os governadores e de todos os países do mundo, marchamos para uma crise maior que a inicialmente projetada. 

Em razão do descumprimento das regras de recolhimento social por parte significativa da população dividida (em torno de 50% nestes últimos dias) por conta da insistente e tresloucada “campanha” do chefe da Nação para um liberou geral assassino. Como se não bastasse a trágica realidade do sistema público de saúde definitivamente despreparado para a luta desigual que se avizinha. O que é altamente preocupante por três razões. 

A primeira, porque o número de profissionais existentes é insuficiente para o tamanho da epidemia; a segunda, pior, porque a maior parte não está apta tecnicamente para o trabalho emergencial que exige longo treinamento e expertise; a terceira, a já prevista incapacidade física das estruturas hospitalares para atender à demanda que vai explodir e a reconhecida falta de equipamentos de segurança para os profissionais da saúde. 

Quando se noticia que mais de quatro centenas de profissionais já foram/estão infectados pelo vírus, alguns em estado grave e vários mortos, ficamos a nos perguntar o que pode acontecer com essas pessoas obrigadas a lidar cotidianamente com a ameaça de morte que os ronda.

Não, não é exagero, esses hospitais públicos que aí estão, são os mesmos que até há pouco sequer tinham luvas ou esparadrapo para o atendimento aos pacientes. E agora, no início do pico da epidemia já informam que suas UTIs estão lotadas ou quase.

Como não existe mágica que venha a mudar esse estado calamitoso de coisas na rede pública de saúde da noite para o dia, é muito provável que com o arrefecimento do recolhimento social e o consequente aumento do número de doentes graves aumente tragicamente o número de mortos nesta epidemia.

E venhamos a repetir, de forma amplificada, o que já está acontecendo em países ricos e desenvolvidos como Itália e Espanha, com pessoas sendo atendidas ou em espera dentro de ambulâncias por absoluta superlotação dos hospitais e outros locais reservados para atendimento aos doentes, ou a fileira interminável de caminhões levando mortos a granel para serem enterrados em covas comunitárias, já que os serviços funerários colapsaram.
E isso nos liga diretamente à realidade cruciante deste país. 

O enorme contingente de mais de 70 milhões de pessoas vivendo em condições, para dizer o mínimo, inadequadas, grande parte sem conhecimentos básicos de higiene e/ou sem dinheiro para adquirir sequer uma barra de sabão, senão vai faltar comida em casa, pode levar a situação que, é grave por si só, a uma hecatombe. O vírus ainda não entrou de frente nas favelas. 

Embora a enorme maioria vá sentir apenas sintomas de uma gripe, fatalmente eles irão transmitir o vírus para as pessoas de mais idade ou com problemas de saúde com quem convivem nesses ambientes, digamos assim, impróprios à dignidade humana. 

São milhões nessas condições. E aqueles que evoluírem para situações graves que demandem cuidados hospitalares, irão às portas das unidades de saúde que, definitivamente, não terão como suportar essa demanda. Mesmo com o acréscimo de leitos em estádios, ginásios e outros locais.

E agora o cara achando pouco a bagunça acaba de demitir o ministro da Saúde (que tinha aprovação de 76% da população) para colocar no lugar alguém “mais afinado” com suas teorias exóticas.
Aos que têm fé, só resta rezar para acontecer o menos pior.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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