O que sustenta Bolsonaro
A eleição do atual presidente da República, não resta dúvida, foi plebiscitária. Era ele (por falta de outro) ou o PT de novo. Sua vitória carregou consigo significados diversos, conflitantes mesmo. Ao final da bandalha petista e da passagem do Temer, com sua trupe de achacadores profissionais dos mais variados partidos (sic!), o ambiente estava preparado para o “novo”.
E o eleitor aguardou por esse “novo” até final de agosto, praticamente. Somente quando ficou claro que as forças políticas tradicionais não eram capazes de se articular em torno de um nome que representasse a mudança é que os índices de Bolsonaro começaram a ascender como o candidato anti PT. Até então ele oscilava entre 15% a 20% de intenção de votos.
É desses 15% a 20% que vamos tratar hoje.
O Brasil não é aquele da visão mistificadora do início do século XX de Sérgio Buarque de Holanda e seu homem cordial. Nossa elite política, social e empresarial sempre foi predadora e alheia ao outro, notadamente se esse outro, como é mais de 90% da população, for pobre.
Sua incapacidade de dialogar com as classes populares, as alianças de conveniência, a corrupção desmedida e deslavada que só aumenta, ainda que em tempos recentes sem a estrepitosidade dos tempos petistas e, o ativismo judicial seletivo e grupal, são as razões centrais da desestruturação do sistema político brasileiro.
Com o avançar libertador das comunicações online que desnudou o mundo do ganha-ganha daqueles, em detrimento do perde-perde para os de sempre: os mais de 90% de excluídos, não há como se falar de direita ou esquerda. O que a massa quer é ter um pouco mais para viver de forma decente.
Sem líder, ela encontrou na eleição de Bolsonaro a saída ao que imaginava ser um caminho. Foram quase 58 milhões de votos. Oriundos de pessoas da classe média sempre escorchada, dos que frequentam cultos liderados por espertalhões que “colaram” no candidato vencedor, parte significativa do pequeno e médio empresariado, os militares e, claro, todo o extremo do espectro político da direita e de grande parte da esquerda (algo impensável, mas acontecido. As razões sociológicas não cabem neste espaço).
Por isso que mesmo isolado politicamente e tendo comprovado à farta sua incapacidade para gerir o país, o ex-capitão tem um forte handicap a seu favor: segundo o Datafolha, 52% dos entrevistados em pesquisa recente acham que ele tem capacidade para liderar o país. Ainda, (grifo nosso).
Então, como interpretar esse largo apoio quando se sabe que ele está sitiado politicamente por praticamente todos os estamentos de mando deste país? Seu discurso de vitimização e de entendimento do problema do “outro”, mesmo que em detrimento dos “demais” faz com que sua base eleitoral mais fiel se mantenha. E isso é tudo o que lhe interessa para sua reeleição.
Nesse sentido, em plena crise do Coronavírus, Bolsonaro insta seguidores, pessoas da periferia, os informais e micro empresários a desobedecerem ao recolhimento social em atitude oportunista que, a princípio “atende” às necessidades daqueles que o Estado que ele dirige, demora a atender socialmente. São eles os mais vulneráveis no ataque do vírus.
Se sua estratégia for vencedora, o número de mortos vai crescer exponencialmente com o pico da epidemia. E uma catástrofe humanitária pode acontecer nesse país.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA