colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

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Atropelados pelo fatos

30/03/2020 - 08:15

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Mandetta, ministro da Saúde
Mandetta, ministro da Saúde

Os Estados Unidos, modelo e referência do presidente da República, que tem em Trump seu ídolo, ao descobrir a magnitude do problema Coronavírus, não titubearam em proteger suas empresas, bancar a remuneração dos trabalhadores do país afetados pela crise, distribuir mensalmente 1.200 dólares com pobres e classe média baixa e mais 600 dólares por criança até o final da pandemia. 

Um pacote equivalente a 2 trilhões de dólares, ou a 10,6% do seu PIB. O maior pacote de ajuda emergencial de todos os tempos. Além disso, o BC americano injetou 1,5 trilhão de dólares para garantir a liquidez do seu sistema bancário. 

Ainda assim, o país corre risco de ver a epidemia assolar seu território pelo atraso na adoção de medidas preventivas pelas crenças equivocadas de Trump. Está ameaçado de se tornar o epicentro da pandemia mundial.
Numa economia 9 vezes menor que a americana, como a brasileira, pacote similar equivaleria a uma injeção emergencial do governo da ordem de 700 bilhões de reais.

Há três dias, o ministro da Economia anunciou a disponibilização de 740 bilhões de reais nos próximos 3 meses - o pico da epidemia entre nós – para ajudar empresas, empregados, informais e todas as pessoas do extrato social inferior do país. Então por que a aparentemente auspiciosa notícia não foi recebida com aplausos similares aos do governo americano?

Em primeiro lugar, pelo comportamento errático e disfuncional do presidente da República, contrário às recomendações da OMS sob a estabanada desculpa de que o país não pode parar por conta de uma gripezinha. Atitude que pode levar à explosão de casos, à implosão do nosso fragilíssimo sistema de saúde, à exponenciação do número de mortes pelo Coronavírus e que está trazendo enorme insegurança à população em momento tão crítico.

Em segundo, pela forma parcial e amadora como as medidas foram comunicadas à população. De forma desconexa e retalhada em várias medidas de menor impacto, quase passaram em branco para o público-alvo. Sem detalhamento, deixou no ar aquele sentimento de que são números “pra inglês ver”. 

Em terceiro, pela bateção de cabeça entre técnicos dos ministérios da Economia e da Saúde, divididos entre resistentes (Economia) e favoráveis (Saúde) à ação mais contundente para reduzir o impacto do vírus, evitar quebradeira generalizada de empresas e de pessoas com fome, fonte certa para desordens, saques e rebeliões.
E, em quarto, pela justificada desconfiança da população de que até a “ajuda” chegar, eles já morreram de fome, afinal as pessoas estão confinadas há vários dias e, especialmente, os informais e os desalentados, a imensa maioria, não têm de onde tirar dinheiro para sobreviver. 

Até agora, o governo não encontrou caminho para fazer chegar o dinheiro anunciado a essas pessoas. Sem cadastro, não sabe onde estão, quem são, quantos são. Não bastasse o número de mortos que a orientação suicida do presidente vai provocar, temos pela frente este outro gravíssimo problema. Capaz de derrubar governos. 

Afinal, as pessoas não vão aceitar passivamente morrer de fome pela inapetência do chefe de governo intervir para liderar a busca de soluções, em nome de sua crença de que se trata de uma gripezinha e de que a economia precisa funcionar, a qualquer custo.
Serão atropelados pelos fatos...

* O opinião do autor não representa, necessariamente, a do EXTRA ALAGOAS.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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