colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

O coronavírus é ameaça a economia global

11/03/2020 - 13:22

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Divulgação
Chineses com máscara em proteção do coronavírus
Chineses com máscara em proteção do coronavírus

O BC americano deu a senha e derrubou fortemente esta semana os juros (não ocorria desde a crise de 2008). Com isso, os juros reais americanos se tornaram negativos, como já o é há muitos anos no Japão e, há algum tempo, na Europa. Os países centrais logo seguem o jogo.

O BC brasileiro mudando de atitude em relação à última reunião do Copom já sinalizou que vai na mesma toada da redução de juros para mitigar parte dos estragos que o Coronavírus já provoca na economia mundial e prevenir repercussões mais negativas em nosso país. 

Só que essa baixa dos juros sinalizada pelo BC traz embutido o aumento do dólar. E se ela tiver de ser mais rápida por aumento da crise global, pode gerar aumento nos preços. Ou seja, inflação. A redução mais acelerada pode levar a Selic dos atuais 4,25% para 3,5% (algo muito provável nestes próximos 45 dias). Neste caso, a taxa real de juros no Brasil vai a zero. É isso ou travar a economia. 

Outro dado, que não se pode deixar de lado neste momento, é que a economia brasileira desde os anos 1990 depende em cerca de 60% do desempenho da economia chinesa. O FMI havia projetado um crescimento para a China, em 2020, de 6%. As primeiras avaliações (pouco confiáveis) revisionais do PIB chinês para este ano, indicavam queda naquele número para 4,8% a.a. 

É cedo para se cravar um número final. Pessoalmente, acho que cai mais. O que, definitivamente, não é bom para ninguém. E olha que só estamos no início deste imbróglio...
Agora, numa crise como a que se avizinha, a política monetária tradicional enquanto ferramenta ortodoxa acaba por não atender situações emergenciais como a que estamos prestes a vivenciar mundo afora por conta do Coronavírus. O mesmo se dá com a politica de juros zero ou negativos que as nações ricas já praticam. Nestas circunstâncias elas não são o “remédio” urgente que as economias irão precisar. A heterodoxia monetária é o caminho.

Foi o que ocorreu na crise de 2008, quando os países centrais “esqueceram” rápido suas receitas ortodoxas de política monetária que tanto prezam e trataram de implantar rapidinho medidas heterodoxas para salvar suas economias. Inundaram seus sistemas bancários com grana sem qualquer exigência séria de contraparte. Fizeram o mesmo com grandes grupos empresariais e para investimentos de grande porte. Irão fazer de novo agora.
Se a crise se agravar, e vai, afinal doscerca dos 180 países existentes ela mal chegou a pouco mais de 4 dezenas, a economia global e dos países irá passar perrengues. E naqueles de baixa e média infraestrutura de saúde (a quase totalidade dos ainda não alcançados pelo COVID-19) como o Brasil, já infectado, suas economias irão sofrer bastante esses efeitos.

Não à toa, governo brasileiro e mercado já reduziram as exageradas projeções de crescimento para 2020 emitidas no final do ano. Dos 2,5% a 3% iniciais para em torno de 1,5%. Um corte médio de 40%. Exatamente a mesma que havíamos cravado no final do ano: 1,5%. E agora, vamos divergir novamente. Não creio que passemos de 0,7%/0,8% em 2020, que são exatos 50% a menos do que o mercado está precificando. O baixo crescimento de janeiro/fevereiro é forte indicativo para isso. 

Sairemos do nosso tradicional voo de galinha (1%) prá uma corridinha de pintinhos. A ver.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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