colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

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O rumor surdo das ruas em 2020

27/01/2020 - 15:35

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Economia brasileira
Economia brasileira

Final e início de ano é tempo das mais variadas “projeções” econômicas neste país. Quase todas descumpridas ao término do exercício, ao ponto de economistas ou organismos econômicos que cravam números similares aos obtidos serem, em geral, incensados na mídia e nos meios políticos e financeiros. Modestamente, e sem alarde, esse semanário nos últimos três anos vem publicando nossas projeções de crescimento econômico para o país. E acertando todas. 

Pelo simples fato de não embarcarmos na onda do mercado financeiro cujos números do PIB, em geral inflados têm como pano de fundo a especulação financeira. Tampouco em institutos de pesquisas econômicas, cujas sofisticadas equações econométricas, desconsideram – até porque os modelos não preveem – fatores “extracampo” como, por exemplo, boa parte das variáveis político-sociais. Tampouco nos fiamos nos números dos governos, qualquer governo, geralmente inflados ou superestimados.

Nesse sentido, recentemente, tivemos acesso a um breve estudo do Institute of Internacional Finance (IFF) sobre as tensões sociais nos países emergentes que, teoricamente, não representavam no ano passado riscos de ruptura social, mas passaram por grandes manifestações. O estudo concentrou-se na evolução da renda per capita, desigualdade social (coeficiente de Gini), taxa de desemprego, gastos públicos em áreas sociais e na governança pública. 

Chegando a conclusões conhecidas: “Nos últimos anos os mercados emergentes falharam em gerar crescimento da renda per capita... mais que tudo, o crescimento foi enviesado... notadamente na América Latina e África e menos na Europa Central”. Leia-se: o de sempre. 

Dois fatores foram elencados como de alto risco: as altas taxas de desemprego ainda beirando 11% – bem melhores que os trágicos 13,5% do governo Dilma – e, a desigualdade: o País foi o 3º pior colocado entre 22 países emergentes analisados. Pior, nosso fosso entre ricos e pobres vem aumentando (o IBGE, em 2018 constatou que a renda dos 10% mais ricos cresceu 4,1% enquanto a dos 40% mais pobres decresceu 0,8%).

Um terceiro fator que – segundo o Instituto – pode elevar a pressão social por estas bandas: o baixo crescimento econômico para 2020 (o mercado projeta 2%), insuficiente para o país gerar empregos, renda e almejar minorar as disfuncionalidades sociais internas.

Particularmente, dada às inúmeras reformas não resolvidas (fiscal/tributária, do Estado política e, as insuficientes reformas trabalhista e da previdência), o errático governo federal, raras mudanças nos Estados, a enorme capacidade ociosa industrial (e seu gigante atraso tecnológico), poucas esperanças de retomada firme do setor de serviços e nenhuma mudança infraestrutura capaz de aumentar a produtividade nacional, fico, novamente, em posição conservadora: se chegarmos a 1,5% de crescimento, “mãos para os céus”. Mas, como visto insuficientes – e distantes – para abafar o rumor surdo das ruas. Infelizmente.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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