colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A desigualdade é a ponta do iceberg

25/11/2019 - 15:47

ACESSIBILIDADE


A literatura econômica é rica em estudos sobre a desigualdade. O tema em 2015 valeu ao
economista Angus Deaton o Prêmio Nobel de Economia por seus trabalhos sobre o assunto. A
verdade sobre a desigualdade é que ela é tão somente a ponta infame de um gigante iceberg
que assombra a grande maioria dos países. O mundo é imensamente desigual. E a
desigualdade, com frequência avassaladora, é gerada pelo progresso de alguns países em
detrimento da maior parte das nações.

Nos últimos 250 anos, o crescimento econômico da Europa e dos Estados Unidos levou aos
grandes abismos sociais, culturais e econômicos de hoje entre as nações. Crescimento que se
deu em grande parte à custa da pilhagem europeia das regiões do mundo por eles invadidas e
pela dominação econômica (EUA). Que deixaram como instituições econômicas e políticas que
condenam até hoje à pobreza e à permanente desigualdade a maior parte do mundo. Um ciclo
perverso e em grande escala.

A globalização atual, a exemplo das “revoluções” anteriores, trouxe lado a lado crescimento e
desigualdade. Países como China, Índia, Coreia do Sul, Cingapura se beneficiaram dessa etapa
de desenvolvimento do mundo e crescem rapidamente em direção aos países desenvolvidos
(que também crescem embora em menor velocidade). Ao mesmo tempo, se distanciam do
grande grupo de nações que não lograram avanços no período criando novas desigualdades. A
história se repete, alguns poucos são os beneficiários desta etapa do crescimento global.

Quanto maior a desigualdade maior o deficit educacional, de saúde, segurança pública, justiça.
Menos respeito à dignidade humana, à liberdade e aos direitos fundamentais do homem. O
Brasil é exemplo acabado dessa narrativa. O eterno país do futuro padece dos males de suas
estruturas arcaicas, desenhadas “a dedo” ainda no império (embora “modernizadas” ao longo
do tempo na linha do “fazer tudo para permanecer no mesmo lugar”) é exemplo acabado do
que fazer para impedir o crescimento econômica de uma Nação.

Nossas instituições são feudos que impedem a entrada de práticas modernas. O primitivismo
político que se pratica no país é digno de uma republiqueta de bananas. Nossa justiça nunca
foi tão injusta. A corrupção campeia. A educação, a saúde e a segurança pública são uma
tragédia. Detemos os piores índices do mundo em termos de desigualdade social. Não temos
um modelo de longo prazo para nortear o crescimento do país e reduzir a nossa brutal
desigualdade social. Não há projetos.

Mas a ponta do nosso iceberg aponta para sermos a 7ª economia do mundo... No entanto, o
corpo, tal qual o gigante gelado, esconde as mazelas que precisamos resolver. Depois de
muitas décadas de propostas sonháticas (o Plano Real foi um ponto fora da curva) temos agora
a oportunidade de iniciar o processo de correção do rumo deste país.

A proposta de reformulação do Estado feita pela equipe econômica deste governo juntamente
com a conclusão e aprofundamento das reformas trabalhista, previdenciária, tributária e a
necessária (embora pouco provável) reforma política são os pilares que o Brasil precisa para
retomar o seu crescimento. Será que vamos ficar na beira do caminho e perder de novo a
oportunidade de chegarmos ao primeiro mundo?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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