''Disruptar a educação''
Para qualquer vocábulo, pode-se modificar o seu sentido. Ocorreu com o termo “disrupção”, antes associado a problemas inesperados que geram interrupção de algum processo tendo, portanto, conotação negativa, que ganhou sentido inverso ao ser utilizado por Clayton M. Christensen em seu livro “Tecnologias Disruptivas”.
A nova terminologia já está consolidada em quase todo mundo e associa nomes como Apple, Google, Facebook, empresas disruptivas em seus primórdios (hoje não mais). Que prosseguem em suas rotas inovadoras com projetos incrementais.
Na educação a busca por fórmulas para superar o tradicionalismo, o conteudismo, o formato convencional de ensino e aprendizagem vem de longe. O que se vê de melhor, no entanto, são tentativas inovadoras ou incrementais. E disrupção difere de inovação ou incrementalismo
Projetos desenvolvidos em países como Finlândia, Dinamarca, Estados Unidos, Inglaterra, Índia, Colômbia e mesmo no Brasil, realizam ações inovadoras quanto a princípios, práticas, realizações e resultados. Mas não são disruptivos. Quebrar paredes ou levar o digital à sala de aula não é disrupção. É, no máximo, incrementalismo.
Ser disruptivo conforme Christensen demanda desprendimento do tradicional e superar entraves nem sempre objetivos, materiais ou palpáveis. Nesse contexto, na educação há longa rota a percorrer. Toda uma cultura a ser revista, repensada, reformulada. Transformada.
“Disruptar” poderia levar a uma nova educação que talvez nem devesse ter este nome, mas que, certamente, precisaria exponenciar sua atuação e resultados, rever por completo as relações entre aprendizes, mestres e gestores, as ferramentas e processos de ensino, o relacionamento com a sociedade... Precisaria, na verdade, mudar quase tudo. Isso seria disrupção.
Acontece que, por incrível que possa parecer, nada é mais conservador, antiquado e retrógado que a educação no Brasil. Apesar de todo o “discurso” mudancista, ela quase nada mudou. Continuamos conteudistas e “formando” massivamente gente como se linha de produção industrial. E com péssimos resultados obtidos no PISA...
Por aqui, ela sempre esteve a reboque das várias revoluções tecnológicas acontecidas ao longo dos séculos. E essa educação multissecular agora, está totalmente em cheque com a chegada das tecnologias 4.0 que estão mudando radicalmente a tudo e a todos.
Baratinados “os pensadores da educação” ensaiam discursos recorrentes e mal alinhavados voltados para os seus. E que pouco têm a ver com a realidade do país, de suas crianças e adolescentes. Estamos a anos-luz de uma educação de qualidade por que, dentre outras coisas, teimamos em “eruditar” o simples. Steve Jobs, uma das melhores cabeças do século XX disse que: “meu mantra é foco e simplicidade. Simples pode ser mais difícil de fazer do que complexo. É preciso trabalhar duro para elevar o pensamento ao simples”.
Chega de malabarismos. O atual modelo educacional tem tantos furos que, tal qual um navio muito avariado, será melhor afundá-lo que tentar consertá-lo. O país precisa de uma nova educação e não de reinventá-la. É preciso pensar sofisticadamente simples nessa área. E disrupção é o caminho. Na próxima edição continuamos a trilogia de artigos sobre o tema.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA