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Saberes antigos

15/08/2022 - 15:32

ACESSIBILIDADE


Roma, da Antiguidade, não dispunha de uma constituição una e escrita. Governava-se por leis esparsas baseadas na tradição, pois tinham a ancestralidade em alta conta. Em suma, pensavam com firmeza que os modernos não poderiam esquecer os antigos. Pensando nisso, lembrei-me de alguns saberes da Antiguidade greco-latina que até citamos, mas quase nunca observamos. São aforismos preciosos.

Quem nunca ouviu dizer-se “a sorte está lançada”, exortação de Júlio César aos seus soldados, após atravessar o rio Rubicão, em direção a Roma, quando deveria cercá-la e invadi-la? Malgrado hoje não tratarmos de qualquer invasão, mas de eleições gerais, agora já realizadas as escolhas dos candidatos, pode-se dizer que os pleiteantes aos votos dos eleitores brasileiros atravessaram o seu Rubicão.

Um dito muito nosso é “quanto maior a altura, maior a queda”. Quem sabe esse anexim não tem origem na lenda grega de Ícaro, aquele que, ambicionando voar como os pássaros, construiu asas de cera e intentou chegar ao Sol? Claro que seus apetrechos alados derreteram, sendo inevitável a queda e a morte do filho de Dédalo, precipitando-se no mar Egeu. Muitos candidatos estão pretendendo realizar a façanha de Ícaro. Alguns conseguirão, outros desabarão das alturas e encontrarão o seu Egeu.

Os gregos, na origem, não conheciam o criacionismo da escritura hebreia, que o cristianismo herdou. Todavia, tinham eles o seu próprio, considerando que seus deuses haviam criado tudo o que se vê sobre a terra, inclusive o homem. Lá também faltava a mulher. Zeus a teria criado e entregue ao gigante Epitemeteu, irmão de outro da espécie, Prometeu. Deu-lhe o nome de Pandora. O gigante guardava em sua habitação uma caixa, onde guardava todas as desgraças do mundo. Apenas uma ventura a caixa conservava: a Esperança. Tal baú era bem guardado, e Pandora estava terminantemente proibida de abri-lo, mas a curiosidade venceu o temor.

Quando a caixa foi aberta, esse gesto inocente libertou todas as misérias que hoje atormentam a humanidade. Percebendo o mal que fizera, a mulher fechou a caixa rápido, mas era tarde, apenas conseguindo deixar guardada a Esperança. É o mito da “caixa de Pandora”, expressão tão utilizada quando queremos referir os segredos de alguém. Agora iniciada a campanha política, a caixa de Pandora de cada candidato será forçada e aberta por seus adversários. Segredos cabeludos estão, como sempre, prestes a surgir.

Dâmocles era cortesão da corte de Dionísio de Siracusa. Como tinha inveja da riqueza do soberano, Dionísio resolveu ceder a Dâmocles, por um tempo, toda a sua boa-vida. Todavia, mandou pendurar sua espada, segura por um fio de cabelo de cavalo, sobre a cabeça do cortesão. Eleitos, os políticos são Dâmocles, e o povo Dionísio. Só nos falta a espada punitiva dos desmandos dos governantes.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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