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A vingança do Lanterna Vermelha

30/05/2022 - 11:34

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Há uma frase latina que diz bem da transitoriedade da glória humana: “sic transit gloria mundi”. Os exemplos mundanos que autorizam a propriedade da advertência são inúmeros. Entre nós, o mais recente e notável foram a ascensão, glória e queda do juiz Sérgio Moro. Antes considerado herói nacional por seu combate à corrupção, graças a Bolsonaro e os reveses que sofreu no Supremo Tribunal Federal tornou-se a “Geni” de Chico Buarque. Há quem diga que o antigo magistrado mereceu. 

Abandonar promissora carreira na Justiça Federal para se juntar a Jair Bolsonaro teria sido grande erro e pecado. E o foi verdadeiramente. Desde que rompeu com o tresloucado governo vive em verdadeiro inferno astral, mas a “pá de cal” veio com o STF tardiamente anulando os atos de Moro na operação Lava Jato. Foi o suficiente para os réus, vitimizados pela decisão, arvorarem-se de inocentes, sob o olhar apático dos órgãos de justiça e pela sociedade em geral. 

enhuma voz levantou-se para esclarecer que a anulação dos atos jurisdicionais não equivale a uma declaração da inocência de Lula e sua tropa petista, mas apenas é uma questão processual, sem análise de mérito da questão posta ao escrutínio dos juízes. Moro, hoje, é uma alma penada a vagar no limbo político-social. O ato do STF foi, ademais, grande desestímulo àqueles juízes que tentam combater o abuso dos poderosos.

Esse artigo vem a propósito das notícias recentes a ação movida pelo PT contra o antigo juiz “mãos-limpas”, para gáudio dos bolsonaristas. O partido de Lula – certamente por vontade e estímulo do líder – pretende culpar Moro por todo o prejuízo sofrido pela Petrobras, uma empresa nacional espoliada por atividades espúrias dos governos petistas. 

Esquecido fica o aparelhamento da corporação, inchada por correligionários incompetentes, e que ali estavam para encobrir as falcatruas dos governantes. A desenfreada corrupção – essas falcatruas de que falo – não teria sido, então, a real causa do empobrecimento moral e financeiro da empresa, mas a ação moralizadora da Lava Jato. 

Lula voltou a ser um símbolo nacional, o maior concorrente de Bolsonaro à Presidência da República. Maior e mais bem cotado, aquele que faz tremer os Palácios do Planalto, e da Alvorada, que causa insônia ao pleiteante palaciano a mais um período de poder transitório, que ambos querem absoluto. Bolsonaro, além do poder absoluto, quer que seja ele concentrado na sua pessoa.

Há um aforismo, já tornado popular, a nos advertir que todo povo tem o governo que merece. Esse é o nosso drama existencial. Pelo andar da carruagem, estaremos iguais ao caranguejo: esmagado entre o mar e o arrecife. Ou então, na preferência daqueles afeitos à literatura homérica e à mitologia grega, entre “scila e caríbides”. As eleições nos dirão.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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