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Um pacto federativo pela vida

22/03/2021 - 21:08

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Os de mais idade por certo lembramos de Stanislaw Ponte Preta, criação do jornalista Sérgio Porto. O heterônimo do jornalista carioca produziu o “Samba do Crioulo Doido”, música que embaralhava a história do Brasil, personagens, fatos e datas, tudo com fundo político. Fico a imaginar que música Stanislaw produziria para descrever a política brasileira dos tempos de Bolsonaro. 

Talvez nem precisasse, o Samba do Crioulo Doido vestindo como luva as ocorrências de nossos dias. Não é exagero dizer-se que a Nação tem dificuldades de entender o caminhar do governo federal. Antes da pandemia, o presidente chocava o senso comum, mas não tanto como agora. Um dia Bolsonaro é contra a vacinação, no outro afirma que comprará vacinas; no outro desdenha da vacinação, no outro um ministro seu vem a público para dizer que as palavras do presidente não são de fato negativistas. 

Quando diz que o tratamento precoce com medicamentos por ele receitados, cientistas de nomeada afirmam que isso é um erro absoluto. Bolsonaro se esmera em produzir contradições: já disse que todos, ou quase todos, iriam ser infectados pela covid-19, o que produziria a imunidade de rebanho, que a morte atingirá todo mundo; no dia seguinte novamente ministros do seu governo vêm a público interpretar as palavras do chefe, o que acaba por desdize-lo, depois se desdizem também, sendo disso exemplo lapidar o “manda quem pode, obedece quem tem juízo” do Pazuelo. 

Proclama o presidente que usar máscaras é um erro absurdo, que o apetrecho cria problemas para a saúde individual, e nas aparições públicas, para confirmar a “veracidade” da sua afirmação, não usa máscaras e orienta seus auxiliares também não o fazerem. Agora, com Lula discursando com aquela máscara vermelha do PT, apressa-se a assinar um pacote de leis que ajudarão a comprar vacinas, e imitando o adversário, comparecem, ele e seus auxiliares, todos devidamente mascarados.

O fato é que a situação da saúde pública é caótica graças à pandemia, quase todo o País entrando em colapso sanitário, mercê do aumento de infectados que demandam tratamento hospitalar. O que ficou patente nessas circunstâncias é que o País é um navio à deriva, o comandante bradando o deplorável “salvem-se quem puder”, ou, como mencionei em artigo anterior, “é tempo de murici, cada um por si”.

Nunca é tarde para uma reação, mormente quando a vida está em jogo. Assim, então, após mais de um ano de receios pandêmicos, 22 governadores afinal abandonam a placidez expectativa e pressionam os poderes federais – Executivo e Legislativo – para que busquem soluções imediatas para a carência de vacinas, de leitos e equipamentos hospitalares, de recursos para o combate à pandemia. Pretendem criar entre eles um Comitê de Crise, assumindo, enfim, o protagonismo que falta ao presidente errático e a seus ministros, numa explícita aplicação do brocardo: em política não há espaços vazios.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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