Conteúdo Opinativo

Somos aborígenes

18/01/2021 - 18:30

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Meu dileto amigo, o velejador e circum-navegador João Sombra, envia-me postagem, em WhatsApp, de determinada jornalista de algures no Sudeste ou Sul do País, maltratando este nosso estado das Alagoas por causa da agressão, hoje já pública, supostamente sofrida pelo ator Henri Castelli. Digo “supostamente” porquanto a questão ainda não está suficientemente clara, as partes, cada qual dando a sua versão heroica. Inicia, a desditosa jornalista, qualificando de aborígenes os agressores do ator global, e adiante clamando contra Alagoas e convocando todos os aborígenes de outros estados a não mais nos visitar, ou se o fizer, aprecatarem-se da violência que podem ser vítimas em nosso torrão.

Primeiro vamos esclarecer a questão do “aborígenes”. Os dicionários – recomendo o Aurélio – revela ser aborígene o nativo de um determinado lugar, podendo ser índio ou não, o que não significa selvagem, como pareceu querer dizer a ironia da senhora em questão. Se os produtores das agressões ao ator são selvagens ou não, não se deve incluir na classificação os alagoanos, pois somos todos, ou quase todos aborígenes de Alagoas, como outros são do Rio de Janeiro, ou da Bahia, ou de São Paulo, ou de qualquer outro lugar. Nosso estado é local de excelente receptividade aos adventícios, sejam turistas ou não. 

Por outro lado, as declarações da jornalista foram absolutamente passionais, o que é compreensível ante a amizade que declara ao Sr. Castelli, mas certamente injustas e, talvez precipitadas.

Não conheço as partes envolvidas no conflito. Nem o ator, nem os supostos agressores. E como toda pessoa racional e pacífica, deploro a violência. Todavia, na escola de Direito, bem como na vida de advogado criminal, aprendi com a lição do jurista Nelson Hungria que devemos atentar primeiro para os motivos de um crime, ou melhor, conhecer e compreender as causas dos atos considerados ofensivos à lei. Aliás, essa lição aplica-se a tudo na vida. Até agora todo o estardalhaço, seja na mídia convencional ou na social, tem sido baseada nas declarações da vítima, e de amigos seus. Os supostos agressores, esses parecem não ter sido ouvidos, ou preferem ficar em silêncio. 

Óbvio, para nós da área jurídica, que a verdade não poderá surgir apenas das palavras de um dos lados, seja vítima ou agressor, por mais importantes que eles sejam ou pensem ser. O Sr. Castelli é ator, exerce uma profissão tão honrada como a de médico, advogado, engenheiro, comerciante, marceneiro, pedreiro e tantas outras. Portanto, não nos precipitemos em julgar ninguém, nenhum deles, antes de conhecidos todos os fatos, pois em geral eles surpreendem quando totalmente revelados. 

Quanto à aborigenia (a palavra não existe no vernáculo, mas licenciosamente considerei-a apropriada), somos todos aborígenes alagoanos, com muito orgulho.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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