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O Brasil e a Vacina

21/12/2020 - 16:43

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O final da pandemia está próximo, bem ali na esquina! Essa ideia difundida pelo presidente Bolsonaro é absurdamente surreal, e, por isso mesmo, paralela à realidade vivida pela população brasileira. Graças ao menosprezo do governo com essa covid-19, a juventude, e também os menos jovens, enchem-se de desprezo pelo mal que assola a humanidade ceifando vidas preciosas (todas o são!), e aventuram-se aos bailes de ruas, aos bares e lojas lotados, às praias aglomeradas, às ruas de comércio tumultuadas. Graças ao menosprezo do governo, os casos de infecção estão aumentando quando já ensaiavam queda, as mortes também crescendo, e em ambos os casos parece haver um total descontrole e desleixo das autoridades. O fato é que as restrições ao convívio social, prevenção contra a propagação do vírus, foram precocemente reduzidas, até eliminadas.

Como veio a acontecer isso? Primeiro se falou muito na questão econômica e menos na saúde pública. Chegaram as eleições e os políticos, por puro interesse, permitiram comícios, carreatas e comemorações. Resultado palpável: os casos de infecção aumentaram exponencialmente, assim como as mortes; os hospitais voltaram à superlotação e à consequente falta de leitos. Isso tem trazido a população à razão? Parece que não. Nem as
exortações de médicos e cientistas tocam as pessoas. As festas de final de ano chegaram e todos – povo, comerciantes e governantes – anseiam pelos festejos. Compreende-se que a população reaja até irracionalmente, cansados todos de uma reclusão sem visitas e sem os abraços tão caros ao nosso quotidiano. 

Os comerciantes, por sua vez, esperam ansiosos os lucros. Por outro lado, a vacina, já aplicada na Inglaterra e nos Estados Unidos, cria esperançosas expectativas, bem afinadas com o desejo de todos pelo fim do pesadelo da
pandemia. Mas que vacina? Na verdade estamos todos vibrando – há um quê de inveja nessa euforia – com o que acontece em outros países, porque no Brasil os governantes não adotaram alguma medida para a vacinação da população. Nenhuma estratégia realmente digna deste nome, nenhuma logística. Nem sequer se adquiriu as necessárias seringas para aplicação das doses imunizantes. Vacinas? O governo federal até agora não fechou nenhuma compra. 

Apenas usa um discurso oco, vazio, que tem como bordão o “estamos aguardando a aprovação de alguma vacina pela Anvisa”. Esta por sua vez, coonestando a absurda apatia governamental, afirma esperar que os laboratórios requeiram autorização, e a aprovação será decidida caso a caso, mesmo que organismos semelhantes de outros países hajam aprovado o uso de alguma vacina. Outro discurso bem ao gosto do governo de plantão: estamos
negociando a compra. Qual? Quando? Como? São apenas detalhes, como parece dizer o descaso do ministro da Saúde, aquele do proverbial “ele manda, eu obedeço”, causando um sorriso vitorioso do Bolsonaro. Enquanto isso, “o povo ó!”, como diria o professor Raimundo, do Chico Anísio.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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