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Além da queda, o coice

10/08/2020 - 13:35

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Perdoem-me o título prosaico, mas me pareceu bem apropriado usar a expressão popular nordestina para referir-me às agruras atuais da Lava Jato e do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro.

Não faz muito tempo a operação que combatia, com bastante sucesso, a corrupção no Brasil era louvada, apreciado o denodo com que jovens – e não tão jovens – procuradores da República, com a apoio do então juiz Moro, auxiliados por entusiasmados Delegados e policiais federais faziam, desde 2014, a faxina na política brasileira e no empresariado comprometido com desmandos financeiros dos donos do poder.

A Lava Jato atravessou incólume três governos federais, apenas açoitada pelas críticas de defensores dos acusados e pelos próprios e, em casos pontuais, por um ou outro ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Nem a administração mais atingida, a do PT, teve a ousadia de exercer poder para desmanchar o trabalho bem feito do grupo investigativo-acusador.

Réus espernearam, surrupiaram provas, ou tentaram fazê-lo, e ainda assim o Grupo de Curitiba, como também passou a ser conhecido, continuou sua missão auto imposta, estendendo seus tentáculos por vários estados, senão todos. Onde houvesse malversação do dinheiro público, lá estariam eles no mister de identificar, processar e julgar (os órgãos judiciais) corruptos e corruptores, sem importar o nível de poder pessoal ou funcional dos indigitados investigados.

À exceção dos simpatizantes, partidários, e acólitos dos políticos e outros atingidos pela perseguição criminal, a nação aplaudia e admirava a faxina ética. Quem diria que poderosos, de qualquer jaez, cairiam sem dó nem piedade nas malhas da Justiça? Quem suporia que o Grupo de Curitiba – e após o do Rio de Janeiro – iria tão longe sem sucumbir à maça dos donos do País?

Bem, essa época acabou! Desde a saída do ex-ministro Sérgio Moro aqueles jovens perderam o baluarte. Os alvos das famosas operações da PF, interessantemente nominadas, agora se sentem livres para os ataques e a destruição, não só da Operação Lava Jato, mas de todos aqueles denodados cidadãos que ousaram realizá-la. Afinal, os partidos políticos mais envolvidos em falcatruas hoje têm seus próceres bem recebidos nos salões do poder.

O Centrão, de políticos tão enrolados, é governo. Os filhos do mandatário maior, envolvidos em situações escusas que vão desde as chamadas rachadinhas nos gabinetes de câmaras municipais, assembleias, Câmara e Senado, tudo isso deu coragem a que as forças sempre ocultas deste país atrevam-se à tentativa, com boas chances de efetividade, de destruição da Lava Jato. As críticas – algumas procedentes, é bem verdade – aos procuradores da República que iniciaram a limpeza da política brasileira agora se acentuam, capitaneadas – que inusitado! – pelo próprio chefe, o procurador Geral. Não apenas críticas, mas destituição.
Tudo isso faz-nos refletir sobre antigo aforismo – uns dizem que romano antigo, outros que religioso: “assim passa a glória humana!”

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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