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A crise foi, a crise ficou

05/11/2019 - 18:22

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'' Governo Bolsonaro deixa óbvio, porém, a imprecisão do chiste cardosiano. Ou deixa claro a todos que a crise jamais sai do Brasil''
'' Governo Bolsonaro deixa óbvio, porém, a imprecisão do chiste cardosiano. Ou deixa claro a todos que a crise jamais sai do Brasil''

O ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, quando ainda parlamentar, cunhou interessante frase, homenageando as viagens do então Presidente Sarney, e o próprio: “A crise viajou”. Foi uma ironia, meio brincadeira, que afinal firmou-se no anedotário político brasileiro, sendo aplicável aos presidentes pósteros, inclusive a ele mesmo.

Sob o ponto de vista do leitor, a interpretação óbvia é que em todas as vezes que o Sarney viajava levava com ele as crises do País, das quais ele e os seus eram protagonistas. O Brasil, por conseguinte, viveria dias tranquilos. Se assim acontecia, é desimportante, ou irrelevante, para o sentido crítico-político da frase, pois não era ela garantia de que Brasília viveria então tranquilidade naqueles breves períodos. Considerando o dinamismo político, e a sede de criação de factoides dos nossos representantes, imagina-se que a coisa continuaria do mesmo jeito, ou seja, “tudo como d’antes no quartel de Abrantes”. Que é uma frase interessante, a de FHC, não se discorda.

O Governo Bolsonaro deixa óbvio, porém, a imprecisão do chiste cardosiano. Ou deixa claro a todos que, infelizmente, a crise jamais sai do Brasil, malgrado o núcleo bata ligeiras asas com o seu criador. É como se tudo fosse varrido para debaixo do tapete durante o périplo, o mais das vezes lúdicos, do presidente da República. Agora não! Se Bolsonaro voa, a crise certamente o acompanha, como no dito de Fernando Henrique Cardoso; ao mesmo tempo ele, Bolsonaro, a deixa ainda aqui. Parece contrassenso, mas não é. O presidente leva consigo a crise, mas, boquirroto, não para de falar, alimentando dessa forma o fogo de monturo. Que falta faz aquele “¿porque no te callas?”, do rei Juan Carlos, de Espanha! Por outro lado, deixa aqui seus filhos que também mantêm acesas as brigas políticas, adolescentes buscando encrencas aleatoriamente. Ficam aqui também políticos fundamentalistas que se opõem a tudo que vem do governo, independentemente do interesse do povo. Outros interesseiros, loucos por uma barganha por seus votos, mudam de opinião conforme soprem os ventos do mercantilismo político.

Receio, às vezes, estar apenas sendo negativista, coisa que deploro. Todavia, como não avançar nas críticas do que acontece por aqui? Dirão alguns ser perda de tempo, pois essas críticas, às vezes cáusticas, outras repetitivas, nenhum resultado prático trarão, tão distantes encontramo-nos do centro do poder. Pergunto-me: o que importa isso, essa distância, o desprezo que os políticos têm por opiniões do cidadão comum? Nenhuma, para mim, desde que as nossas opiniões estejam registradas. Como na sabedoria latina, verba volant; scripta manent.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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