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Lambanças da política

06/08/2019 - 16:08

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Marco Antonio/Secom Maceió
Bairro do Pinheiro
Bairro do Pinheiro

Ao tomarmos conhecimento, ainda que superficial, do pensamento político de filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Cícero, Maquiavel, Locke, Adam Smith, Hobbes, Montesquieu, Voltaire, Rousseau, Thomas Morus, Engels, Hannah Arendt, Norberto Bobbio e tantos outros, antigos ou modernos, de diversas raças, épocas e lugares, ficamos pasmos ao percebermos como os políticos da modernidade praticam a política, absolutamente contrários à essência da prédica antiga. E isso em qualquer parte do mundo, não só entre nós, ou mais restritamente aqui nas Alagoas.

De fato, os políticos modernos de há muito perderam o siso, emaranharam-se nas promessas, as mais absurdas, e nesse caminhar esqueceram que o cerne da política é o bem-estar, a felicidade de todos os habitantes da “pólis”. Ainda que se conteste o entendimento de Rousseau pela existência de um contrato social, não podemos abstrair que o mandante do poder é o povo, e os políticos são apenas mandatários, ou sejam, recebem uma outorga para serem a voz de todos e defender os seus interesses, até buscando a pacificação dos interesses conflitantes existentes em qualquer democracia. Exemplo acabado da infidelidade ao mandato outorgado pelos eleitores é, em Alagoas, o caso do Pinheiro.

Em um primeiro momento, quando se descobriu os problemas existentes no solo e subsolo do bairro, admirou-nos a total ausência de preocupação dos nossos mandatários, em qualquer esfera, exceto um ou outro ocupante de cargos políticos. Foi como se os moradores desse outrora agradável logradouro estivéssemos entregues à própria sorte. Após tanto pelejar, afinal o prefeito da capital despertou, enquanto o governador ensaiava algumas tímidas palavras, emudecendo na sequência. Mesmo com a absoluta inércia do governador, o tímido interesse do prefeito trouxe alguma esperança às pessoas dos bairros, pois agora as sequelas da exploração de sal-gema pela Braskem já afetam Mutange e Bebedouro. Todavia, aquilo que parecia a solução das dificuldades dos moradores desses bairros, vem se revelando mais um engodo, uma lambança política.

Vejo pessoas na mídia mostrando casas com graves e progressivas rachaduras em paredes e no piso, apreensivas porque as autoridades apenas as mandam esperar; distribui-se o tal aluguel social, e as pessoas não são informadas como devem proceder, se ficam com o imóvel, ou se os abandonam; a Justiça que bloqueia valores das contas da Braskem, garantindo assim as indenizações que só Deus sabe quando receberão, é a mesma Justiça que libera os recursos em favor da empresa causadora dos imensos prejuízos sociais, pessoais, materiais e imateriais, e aquela se dá à pachorra de contestar o óbvio, negando a aparente boa-vontade demonstrada no calor dos acontecimentos.

E mais uma vez, governador e prefeito, assim como os órgãos administrativos envolvidos no processo, parecem absolutamente perdidos, alheando-se aos problemas, talvez com tais atitudes facilitando as estratégias da Braskem.

Se política é feita de lambanças, os nossos representantes são catedráticos pós-graduados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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