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Boca Torta do Cachimbo

16/07/2019 - 13:31

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Reprodução Google
Braskem em Maceió
Braskem em Maceió

Há mais ou menos um mês, talvez dois, o amigo Elias Fragoso, também articulista deste semanário, falava-me da possível, quase certa, pretensão da Braskem, outrora Salgema, de dribrar Ministério Público, Defensoria Pública, Justiça e o povo alagoano, especialmente os moradores dos bairros do Mutange, Bebedouro e Pinheiro, todos aqui em Maceió, vítimas da ação deletéria das atividades da tal empresa. Nesse contexto, algumas autoridades políticas lhe estavam servindo de apoio. A nossa conversa foi longa de minutos, eu naturalmente concordando com as observações perspicazes do Elias.

Tinha ele razão, naturalmente. A Braskem enrolou todos: se disse empenhada na solução do grave problema; por seus diretores revelou-se consternada com a situação dos habitantes dos bairros à beira do cataclismo, etc, etc, etc. Na sequência do embuste, fez – ainda faz – prospecção saneadora da área; fechou poços, segundo afirma; comprometeu-se a tornar seguro o bairro do Pinheiro, restaurando galerias pluviais, promovendo a contenção do solo do logradouro. Nesse desiderato, publicou notas na imprensa e na mídia locais, bem como contratou carros de som que percorriam os bairros informando aos moradores sobre todos os seus passos de boa-vontade; contratou experts para produzirem relatórios que, agora se revelam bem convenientes.

Diz o ditado popular que de esmola grande cego desconfia. O Elias, que não é nada cego, tem perfeita e aguda visão, já enxergava naquela quadra que tudo não passava de engodo. Tinha ciência da migração de caríssimos advogados para Maceió, especialmente contratados pela prospectora para sua defesa e, obviamente, para contestação dos laudos produzidos pelos peritos geólogos dos órgãos oficiais. A premonição realizou-se, e a Braskem foi rápida no seu primeiro passo revelador de suas verdadeiras intenções, conseguindo célere o desbloqueio dos valores retidos pela Justiça alagoana.

É de se refletir sobre a ingenuidade de muitos – inclusive minha – em esperar que uma empresa, desde o início conseguindo plantas de prospecção no subsolo alagoano sob processo suspeito, pudesse agir com ética, assumindo suas responsabilidades, resolvendo os problemas que causou, em comum acordo com as famílias prejudicadas. Na verdade, esse símbolo do dinheiro sempre esteve sobranceiro aos comuns mortais, comprando tudo o que se lhe apresentava, inclusive mentes avidamente disponíveis. Exemplo bem eloquente é a deletéria atividade de sua controladora, a Odebrecht, useira e vezeira na arte de controlar consciências disponíveis, atualmente acossada pelos juízes e procuradores. Aparentemente o rigor das autoridades da Lava Jato não tem conseguido coibir a esperteza dessa turma. 

Mais uma vez aprende-se que o uso contínuo do cachimbo certamente entorta a boca.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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