colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

O mar e o velho chico

30/05/2022 - 11:30

ACESSIBILIDADE


Sempre que chego em Petrolina as lembranças ficam mais fortes. Minha infância vem à tona, minha adolescência retorna e a maturidade se concretiza. Sinto que encontro forças novas para continuar vivendo.

Penedo, terra de meus pais e avós, é banhado pelo Rio São Francisco e lá passei muito tempo dos primeiros anos de minha vida. Fazia a viagem, de navio, entre Penedo e Piranhas e durante a noite, sonhava com meus pais que estavam em Maceió. Um dia, vi uma canoa pertinho e nela estava meu pai. Chorei de alegria e conversamos a noite toda.

Para surpresa minha, dois filhos foram morar em Petrolina, também banhada pelo Velho Chico. Comecei a frequentar a cidade e fiquei encantada com a irrigação e nos impressiona a variedade de frutas e verduras. Alimentação farta e saudável, peixes do rio e bode, muito bode.

Outro fato que me chama a atenção é a união dos políticos em favor da cidade e da região. Todos, independente de partido, unem-se para defender e beneficiar Petrolina. Sempre que chego por esses lados, vejo tudo crescendo, se multiplicando.

Na competição do Velho Chico com o mar, não sei o que é melhor: se o barulho do mar ou o cheiro do rio. Temos no “Paraíso da Vovó Alari” muita fruta, coco e peixe. Toca o telefone e o pescador avisa: “Tenho para o senhor uma cavala de dez quilos”. Quem já comeu peixe fresco, sabe a diferença.

Em 25 anos de Paripueira, fizemos dezenas de amigos. Não vou citar nomes para não correr o risco de errar, mas quando viajamos, todos na cidade são prestativos. Do eletricista ao dono do mercadinho são nossos amigos. Os empregados são bons conosco. Na doença correm todos. Nem precisamos pedir. O padre da cidade é um velho amigo, filho de Deus.

Vi em Petrolina a mesma solidariedade: meus filhos residentes na cidade têm muitos amigos. São bem servidos, conhecidos, contam com boas pessoas.

No enterro de meu filho João, fiquei impressionada com a quantidade de pessoas queridas que lá estavam. Abraços apertados e sinceros. Palavras gentis e elogios a ele que se foi. Sinto que o calor do Velho Chico se incorpora aos que aqui residem.

Quando meu tio José Romariz, filho de Penedo, ex-deputado estadual em Alagoas, morreu, os filhos trouxeram flores de seu túmulo, em Brasília, e jogaram no Velho Chico. Emoção pura!

Na casa de minha filha, em Petrolina, escrevo meus artigos olhando para o rio, vendo os pássaros voando bem pertinho e lembrando meu paraíso ao lado do mar. Impossível dizer onde me sinto melhor.

No momento, vou deixar meu filho enterrado perto do Velho Chico e passarei a ficar presa ao sertão pernambucano por motivo tão triste. Mas, tento rezar e perguntar a Deus: Como vou aguentar tanto sofrimento? Ele responde: “Seu marido e os outros filhos precisam de você”.

Ainda não tive a maturidade para deixar de pensar no meu filho João. Nem a correnteza do Velho Chico amainará meu coração. Preciso ser forte e consolar os outros a meu lado. Mas, durante a noite, tento conversar com o João. Tenho a impressão que ele me diz: “Estou bem, fique tranquila”.

Uma filha liga do Recife, um filho liga do Rio de Janeiro e querem saber como estamos. Digo eu: Caminhando, olhando para o rio que meu pai adorava, tentando rezar, a cabeça doendo, mas ainda viva.

Voltarei para casa e o mar também servirá de amparo à idosa de oitenta e um anos, que diz sempre: Estou ficando velha! A filha ri e pergunta: “Está ficando velha, mãe”?

O encontro com a Mara, minha secretária do lar, me assusta: está comigo há 23 anos e me ajudou com netos e a bisneta. Chorou pelo João, tanto quanto eu!

Ainda assim, agradeço a Deus por me colocar perto do mar e do rio. Deles tiro o consolo de que preciso e forças para continuar vivendo.

Não sei o que é melhor: O “Paraíso da Vovó Alari”, junto do mar, ou o “Paraíso da Tia Ana Rúbia,” perto do rio.
Só Deus saberá dizer!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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