colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

O verdadeiro amigo

25/10/2021 - 17:29

ACESSIBILIDADE


Durante muitos anos vi exemplos de pessoas que provaram suas amizades através de ações. Ser amigo numa época boa é fácil; quero ver estar junto numa crise.

No governo de Silvestre Péricles, ele tinha um grande inimigo e os dois chegaram a cenas dignas de cinema. Numa ocasião, o governador ameaçou queimar a casa do inimigo, deputado estadual. Um grupo de parlamentares, levados por um líder, retirou o carro do político de dentro da garagem de casa e evitou maiores danos.

Um político alagoano avalizou um título de alto valor para um colega deputado. A dívida não foi paga e o cidadão teve que passar seus bens para o nome de um amigo, pois o banco queria tomar tudo. No ano seguinte, foi atrás do amigo pobre para reaver seus bens. Tudo foi feito tranquilamente e a amizade perdurou até a morte de ambos.

Em compensação, uma empresária chique das Alagoas passou seus bens para um parente, que nada devolveu, deixando-a na miséria. Uma amiga influente ajudou e arranjou um emprego para a ex-empresária. Dois fatos parecidos com fins diferentes.

Um governador de nosso estado, homem sério e competente, viu um amigo cair numa triste situação. Chamou o irmão dele e avisou: “Enquanto eu estiver no governo, ninguém mexe com seu mano”. E assim fez...
Conheci uma moça casada com um alcoólatra, que aprontava tumultuadas confusões. No fim da vida dele, só duas amigas convidavam o casal para suas casas. E ela, tristemente, reconhecia o fato.

Vi durante toda minha vida exemplo de amizades que me emocionavam. A casa de meus pais, na minha infância, era cheia de pessoas que vinham de Penedo para tentar a vida na capital e muitos passavam vários meses. Uma delas veio fazer uma cirurgia na Santa Casa. Operada de baço, restabeleceu-se em nossa casa no Farol. A amizade passou de mãe para filhas e todas ficaram muito gratas.

Lembrei-me de uma colega da Assembleia que se separou do marido e foi cuidar sozinha dos seus três filhos. Era diretora de Pessoal e foi chamada pelo novo presidente para dar início ao famoso enxerto na folha salarial. Negou-se a fazer coisa errada, perdeu a chefia e quase ficou sem salário. Teve o apoio dos amigos. Aposentou-se, está viva, dançando tango no Rio Grande do Sul.

Digo sempre a filhos e netos: amigo é aquele que, mesmo discordando de você, não a abandona; fica ao seu lado para o que der e vier.

Não há exemplo mais bonito do que a atitude dos pais de Cazuza. Ele estudava num colégio caríssimo em Botafogo. Logo cedo, entrou no caminho das drogas e começou a cometer loucuras. Quando descobriu que tinha Aids, ligou para a mãe chorando e dela teve seu apoio. Morreu com poucos amigos.

Eu e minha família moramos em vários estados do Brasil, por conta da profissão do meu marido. Fizemos muitas amizades, de Norte a Sul desse grande país. Nas horas difíceis sempre um ombro amigo nos acolhia.

Há vinte anos, minha filha mais velha foi madrinha de casamento do filho de um grande amigo. Hoje ela é promotora pública aposentada e ele general do Exército. Para nós, os pais, são um grande orgulho. Amigos para sempre!

Gosto muito das redes sociais e nelas encontrei uma amiga de infância, de quando tínhamos 10 e 12 anos, respectivamente. Hoje ele mora em São Paulo, eu em Alagoas e, idosas, nos falamos no Facebook, alegremente.
A minha ideia de amizade dentro da família é muito séria. Não é do tipo: gosto de você, mas se não concordar eu me afasto. Sou do tipo: estou com você e não abro!

Preciso ter certeza de que tenho verdadeiros amigos, estando certa ou errada. Sinto falta de alguns deles e espero que eles sintam de mim.

De uma coisa tenho certeza: meu marido e meus filhos são meus verdadeiros amigos.
Deus na causa!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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