colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

A idade da sabedoria

20/09/2021 - 17:21

ACESSIBILIDADE


O velho no Brasil não é tratado com respeito. Sempre há um tipo de brincadeira depreciativa sobre as pessoas idosas.

Estivemos, eu e meu marido, numa agência bancária da cidade. Fomos recebidos por um gerente novo que nos chamou para tratar de um título de capitalização. Passamos mais de uma hora conversando com o moço, nascido no Paraná. Quando descobriu nossa idade, passou a nos tratar com mais gentileza. Após o atendimento, agradeci dizendo: Fomos muito bem tratados aqui. Estamos agradecidos.

Quem não se lembra de Ulisses Guimarães? Homem sábio, político inteligente, idoso, morto miseravelmente num desastre aéreo. Ainda hoje é lembrado na mídia por suas famosas frases.

Quando entrei na Assembleia Legislativa, nos idos de 1960, conheci um deputado, então presidente do Poder. Homem sério, honesto, de decisões fortes. Se não me engano, era médico. Havia um diretor bêbado que amedrontava os servidores. Quis fazer graça comigo e meu pai foi ao presidente, Dr. Mário. Ele perguntou se contaríamos todo o problema criado, na presença do tal diretor. Ele foi chamado e o presidente determinou que desfizesse tudo. Daí, comecei a respeitar o Dr. Mário Guimarães, que na minha visão de jovem com 18 anos, era um velho.

Um exemplo de mulher idosa com bastante coragem é Lya Luft. Escritora gaúcha, valente, escreve sobre o dia a dia das pessoas e tem uma história de vida bem movimentada.

Ainda hoje tenho vários amigos e amigas que já passaram dos setenta e administram tranquilamente a idade mais avançada. Alguns procuram viver com alegria, lendo, escrevendo, bordando, pintando, curtindo a parte final de nossa passagem pela terra.

Sempre fui fã de Rita Lee! Li o livro sobre a vida dela. Uma juventude atormentada pelo excesso de drogas. Chegou aos setenta e três anos tranquila, gostando dos bichos, curtindo a família, achando bom ter cabelos brancos. Infelizmente apareceu um câncer de pulmão. Coisas ruins da vida!

Getúlio Vargas seria outro bom exemplo de político idoso bem sucedido. Presidente da República por duas vezes, era amigo dos trabalhadores e criou várias ferramentas que facilitaram na época a vida do povo. Foi traído pelos próprios amigos e se matou com um tiro no peito.

Atualmente tenho um grande exemplo de médico idoso, muito respeitado pela sociedade alagoana, que também se destacou através do Lions Clube. Refiro-me ao Dr. Afonso Lucena, pediatra de gerações em nosso estado.
Se os leitores vierem a Paripueira e forem à “UPA lá de cima”, vão encontrar um médico quase idoso, atendendo gentilmente a ricos e pobres. É o Dr. José Maria Constant. Creio que é o mais procurado pelo povo da pequena cidade, porque é competente, gentil e responsável.

Estou citando exemplos de pessoas idosas que ainda trabalham e tentam se manter ativas. Não é só o exercício físico que revigora as pessoas em idade avançada. A mente precisa funcionar, alimentando o fim da vida.

Cheguei aos oitenta anos e passo a ver as pessoas e suas atitudes de maneira diferente. O tempo que me resta é curto e não posso suportar criaturas que nada me acrescentam. Há muita coisa boa para ser administrada, muita luta por nossos direitos subtraídos, curtir filhos, netos e bisnetos, enfim, procurar o lado bom da vida.

Frequento um Sindicato de Aposentados e lá posso ajudar companheiros inativos. Era esse tipo de trabalho que meu pai fazia e com ele aprendi a amenizar os problemas dos que de nós precisam. Por outro lado, vivemos no sindicato momentos de alegria: rimos, conversamos, falamos da vida alheia, lutamos por nossos direitos.

E o tempo vai passando, a morte nos ameaça, as doenças aparecem. Sentimos que estamos chegando ao fim da jornada. Mas, enquanto há vida, há esperança e lá vamos nós driblando a morte.
Somos velhinhos sabidos!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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