colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Morrendo e aprendendo

17/09/2021 - 17:35

ACESSIBILIDADE


A vida dos idosos no país está cada dia mais difícil. Os netos assumem a renda dos avós e contraem empréstimos consignados sem a devida autorização dos titulares.

Quanto mais me interesso pelos problemas dos velhinhos, mais fico assustada. Já ouvi de uma pensionista: “Acho minha pensão muito boa, mas meu neto quer aumentá-la”.

A imprensa mostra casos de idosos assassinados por jovens sabedores de quantias guardadas nas casas de avós.
Casos interessantes acontecem com viúvos militares, principalmente em cidades grandes. Mulheres maduras casam com eles, achando que os mesmos morrerão logo e elas herdarão uma boa pensão. Apareceram casos de uma só mulher casar com dois, três viúvos e acumular as rendas. Foi criada uma lei proibindo tal procedimento e essas criaturas agora apenas podem receber uma única pensão. Acabou-se a festa!

Eu e meu marido fizemos oitenta anos, moramos com três empregados, porque os filhos moram longe de Paripueira. Ficamos então interessados na vida de amigos da nossa idade. Alguns moram sós, outros com os filhos. Já há casos de doentes assistidos por cuidadores, precisando de total atendimento médico. Tudo muito complicado e me assusta um pouco. O importante no processo da velhice é a lucidez e a saúde. O resto pode ser definitivamente administrado.

Recentemente, faleceu um artista famoso: Tarcísio Meira. Ele e a mulher viviam juntos e tinham uma boa renda. O filho acompanhou tudo e deve agora cuidar da mãe. Fico imaginando a tristeza e a solidão de uma mulher que viveu com um bom companheiro por mais de cinquenta anos, e, de repente, fica só.

Um casal de minha família vivia muito bem e teve vários filhos. Ele morreu com 67 anos e ela sobreviveu bastante tristonha. Foi definhando, perdeu o interesse pela vida, falecendo dois anos depois. As últimas palavras dela: “João, me socorra”!

Na semana passada fui ao enterro de um amigo, viúvo há onze anos. Não casou novamente, reunia filhas e netos para um café regional todas as segundas-feiras. Foi se encontrar com sua Margarida!

Quando alguém chega aos oitenta anos, vai acompanhando a partida de amigos e amigas, sabendo que está na fila. Vez em quando, toca o telefone e é algum companheiro nosso avisando que outro colega faleceu. Nesses dois últimos anos, com a covid-19, morreu muita gente conhecida nossa.

Não quero passar para meus leitores tanta tristeza. Há vários motivos para alegria. Vários amigos nossos moram em outros estados e vão indo muito bem, com esposas, filhos, netos e bisnetos. Sempre ligam para meu marido e ouço altas gargalhadas, gritos de felicidades! Sabe Rubião, diz um: “Meu neto terminou medicina”! Outro afirma: “Minha neta é oficial do Exército”! Ou então: “Nasceu outro bisneto”! Riem, choram, são felizes!
O interessante é que vivemos do sucesso de netos e bisnetos. Nosso tempo de fazer cursos, ter filhos, já passou. A fase é outra: curtir a velhice com sabedoria, apreciar os verdadeiros amigos, procurando ajudar a quem precisa.

Tivemos sorte com nossos quatro filhos. Vivem em outros estados por conta da profissão de cada um, mas estão sempre atentos à vida de seus pais. Aqui, acolá, liga um filho ou uma filha: “Mãe, quer notícia boa? Fulano passou em tal exame e vai fazer um bom curso no exterior”.

Uma dos quatro quer que o velho casal vá morar com ela. E a “Velhinha das Alagoas” teimosa, responde: Tenha calma, eu e seu pai estamos bem. Vá administrando seus problemas e reze por nós.

Vendo tantos fatos tristes, outros alegres, analisando o sofrimento de alguns e a felicidade de outros, vamos levando nosso barco com tranquilidade, lutando por dias melhores, regulando as caixinhas de remédio, selecionando amigos e parentes, tentando ser feliz.

Penso sempre no meu pai, falecido moço. Deixou sábias lições. Ele com certeza acompanha tudo que se passa por aqui e vai dizendo: “Calma, Alari”.

Os dois idosos de 80 anos seguram na mão de Deus e tentam aproveitar o lado bom da vida.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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