colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Enganando os velhinhos

21/12/2020 - 13:50

ACESSIBILIDADE


Desde que cheguei aos 70 anos observo a falta de respeito com que somos tratados. Aposentados, viramos criaturas de segunda classe. Na própria repartição onde trabalhamos por mais de trinta anos, tudo fica diferente. O Legislativo jogou os inativos no Alagoas Previdência desde 2015 e nunca concretizou a transferência. Não sabemos de onde somos, como resolveremos nossos problemas. Por mais que os amigos expliquem a situação dos
inativos, ninguém entende. Enquanto os comissionados recebem salários dobrados, os velhinhos vão vendo sua renda ser congelada.

A diretoria do Alagoas Previdência não se interessa em solucionar os casos. Fica sempre à disposição da Mesa Diretora, que usa e abusa dos direitos de humilhar pessoas que trabalharam durante 30, 40 anos na Casa de Tavares Bastos. E lá se vão os inativos da ALE/AL sem nenhuma segurança, com salários congelados e apelando
para a Justiça, lenta e protegendo os malvados patrões. As ações impetradas pelos inativos vão passar dez, vinte anos tramitando nos tribunais. Cremos que os resultados servirão para os nossos netos.

Eu mesma já acumulei vários processos, cobrando o que tiraram de mim. E nada recebi! Os deputados descobriram que é melhor o servidor recorrer à Justiça e nada resolver administrativamente. “Judicialize”, diz o ditador maior do Poder Legislativo! Infelizmente, os senhores desembargadores não percebem que são ridicularizados pelos poderes Executivo e Legislativo.

Vez em quando escuto meus empregados chamando os vizinhos de velhos e zombando de alguns atos de nossos amigos. Irrito-me e lembro a eles que só fica velho quem morre pelo caminho.

Administrar a velhice não é fácil. Os passos vão ficando lentos, o raciocínio vai se tornando confuso e os mais novos nem sempre entendem. Morro de pena quando vejo uma criatura bem mais nova do que eu adoecer gravemente. Vai perder muito tempo tratando da doença num período que seria bem bonito em sua vida.
Estamos curtindo agora, na casa dos oitenta, uma fase interessante. Os filhos, caminhando para a maturidade, comemoram as vitórias de nossos netos. Outro dia, vinha do Comércio, cheia de pacotes. E um colega, da idade dos meus filhos, perguntou se podia me ajudar. Pegou os embrulhos e fomos conversando até o sindicato.
Muita gentileza do companheiro, que pode continuar nosso trabalho no Sindicato da Assembleia.

Graças a Deus, conquistamos o respeito e a admiração de filhos e netos. Contamos com todos eles nas horas fáceis e difíceis. São nossos aliados e curtem a luta que tivemos para criá-los. Não gosto de brincadeira desrespeitosa, procuro sempre protegê-los e torcer por suas vitórias alcançadas.

Lamentavelmente, na área funcional não somos felizes. Os deputados da Mesa Diretora não respeitam os velhinhos, levam nosso dinheiro e não devolvem! Estamos sempre recorrendo à Justiça e não obtemos resposta.
Chegamos à triste conclusão de que ser velho em Alagoas é difícil! Os limpadores de vidros, se veem dois velhinhos num carro, vão logo jogando água.

Os motoristas de táxi nos tratam bem. Sempre que entro no carro, puxo conversa para que o moço saiba que estamos lúcidos. A moça da banca de revista já me conhece e guarda o meu jornal da semana e meu bom pão
de queijo! Estamos eu e meu velho numa boa casa, com alguns ajudantes, aproveitando os últimos anos
de nossa passagem pela terra.

Só nos resta pedir a proteção de Deus para que tenhamos um final de jornada bem saudável, contando com a proteção dos filhos. A maldade cometida pela Mesa Diretora do Legislativo com os velhinhos da Casa de Tavares
Bastos será entregue a Deus. Ele punirá os malvados que nos perseguem. Deus existe. Não duvidem!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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