colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Os avisos do céu

24/08/2020 - 13:09

ACESSIBILIDADE


No tempo em que convivi com políticos, vi muita coisa acontecer. Pessoas arrogantes e famosos menosprezavam os mais humildes e, de repente, eram castigados, passavam mal, adoeciam ou morriam.
Fui amadurecendo e aprendendo que tudo na vida é rápido, passageiro, só por um dia. Você sai de casa e não sabe se volta.

Conheci vários políticos vaidosos, donos da verdade. Fui humilhada por um candidato durante uma campanha e vi, anos depois, ele levar uma bela rasteira de outros companheiros de partido. Encontrou-me na rua e disse: “Lembrei-me de você; fui passado pra trás”. Campanha política é um ambiente de selva. É um engolindo o outro!
Outro deputado sabido terminou sendo prefeito de uma cidade do interior. Afastou-se de todos, ficou muito vaidoso e de repente sofreu um infarto quase letal. Era um aceno do céu. Não entendeu.

Voltou para a prefeitura, correndo de um lado para o outro. Num dia sinistro, sofreu um acidente de carro e faleceu.

Cheguei ao Legislativo alagoano em 1959 e conheci figuras de renome do nosso estado. Não havia a corrupção que ocorre hoje, mas havia “coronéis” chefiando vários municípios e existia o “Sindicato do Crime”. Vi um deputado do Sertão ser assassinado em plena Rua do Comércio.

Se o parlamentar fosse de uma área do estado e avançasse em outra, era o bastante para ser ameaçado ou morto. Entravam armados no plenário do Poder e um não dava as costas ao outro.

Uma exceção naquela época: Penedo, situado às margens do Rio São Francisco. As traições políticas eram feitas às escondidas e nunca ouvi falar em crime naquela cidade. Os cabos eleitorais se passavam de um lado para outro, sem ser preciso matar alguém.

Na Assembleia do meu tempo, havia respeito pelos servidores. Os deputados nos chamavam para redigir emendas e outros documentos, aceitavam opiniões, conversavam com todos da Casa. Depois da Constituição de 1989, quando o duodécimo passou a ser administrado pelas Mesas Diretoras, surgiram uns ditadores, donos do dinheiro, formando grupos para humilhar os servidores. Esquecem que são pessoas comuns e amanhã será outro dia. 

Recentemente um reizinho desses perdeu um ente muito querido. Pensei que ia melhorar, pois havia recebido uma puxadinha de lá de cima. Que nada! Ficou pior. Continua com as “rachadinhas” e pisando nos ativos e inativos. A lição não valeu!

No Brasil todo, os políticos-gestores ignoram os avisos e continuam agindo como ditadores. De vez em quando a Polícia Federal baixa em algum estado e prende um desses ilustres. Poucos são castigados e a corrupção continua solta em todas as áreas. Quem não se lembra do homem que levava dinheiro na cueca? Ele continua livre, leve e solto.

Mas não é só entre políticos que campeiam a vaidade, a corrupção, os crimes variados. Em todo lugar vemos gente vaidosa, pisando nos menores, pensando ser o dono do mundo. Pelo modo como somos recebidos em qualquer lugar, reconhecemos o tipo de pessoa com que lidamos.

Em qualquer dos três Poderes, se um cidadão comum tentar falar com o governador, um desembargador ou um deputado, duvido que consiga. É preciso ter um bom padrinho. Eu mesma, vi o governador quando menino, na casa de amigos. Hoje, se passar por ele, nem sei quem é. Outro dia, o coronavírus pegou o pobre coitado. Foi um aviso!

De vez em quando nós mesmos passamos um susto: uma indisposição nos leva ao hospital e lembramos logo do possível chamado.

A pandemia nivelou nós todos por baixo. Ela não escolhe ninguém e é invisível. Daí porque precisamos viver só por hoje. O amanhã a Deus pertence e Ele tem os cordões para nos avisar quando estamos ficando vaidosos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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