colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Destruindo a ilha

17/08/2020 - 13:10

ACESSIBILIDADE


Desde 1999 moramos em Paripueira no Condomínio Atlântico Norte. Na época o Rio Sauaçuy desembocava no mar a 800 metros ao sul de nossa casa.

Na frente um mar calmo, não muito fundo, uma praia linda, um lugar maravilhoso. Mas os humanos adoram modificar a natureza e alguém resolveu fazer um bar embaixo da ponte sobre a AL-101 Norte, aterrando uma parte do rio. Daí então houve uma alteração no curso das águas. Elas começaram a derivar para a esquerda na foz do rio, quase chegando ao centro da cidade de Paripueira.

Tudo isso aconteceu em 2013. Os moradores da orla sul da cidade colocaram pedras na frente de suas casas como proteção. O avanço tornou-se menos forte e formou-se uma longa ilha de areia e vegetação nativa entre o mar e o rio.

Ficamos tranquilos até 2018. Havia dois sítios vizinhos à nossa casa, que resolveram fazer negócio com um grupo da cidade, incorporando suas terras. Surgiram dois novos condomínios luxuosos, com excelente estrutura. Foi muito bom para todos nós, porque animou a área com novas residências.

Deu-nos satisfação. Antes era um lado meio deserto, apenas com duas casas. Agora estava tudo iluminado, mais bonito, de muito bom gosto. 

Um belo dia, em 2019, apareceram, na praia, em frente ao novo condomínio, umas máquinas enormes, cavando o mar para fazer uma obra de contenção. Achamos errado e fomos visitar a obra. Para nossa surpresa, havia uma grande placa do IMA – Instituto do Meio Ambiente, autorizando os trabalhos. Falamos com o engenheiro responsável, dizendo da nossa preocupação com tão gigantesca contenção apenas na frente do Condomínio Rio Mar.

Ele nos tranquilizou, afirmando que nada aconteceria e que o rio voltaria ao seu leito normal. E se fizéssemos na frente da nossa casa, quanto gastaríamos? Seiscentos mil reais, disse ele.

E a obra continuou, sendo gasto bastante dinheiro com o grande volume de concreto. Não sabemos quem é o dono do empreendimento; conhecemos apenas o engenheiro responsável pela obra, no momento um potente dique de uns 200 metros de extensão, na nova foz do Rio Sauaçuy.

Estamos em 2020 e o que vemos é assustador: o rio está avançando para as casas do Condomínio Atlântico Norte. Pior, muito pior: a ilha que se formou entre o mar e a desembocadura do rio está sendo destruída; consequência da mudança de direção das águas do mar que quando a maré está enchendo, vai de encontro ao dique recém construído e alarga o curso natural do rio.

Várias pessoas já procuraram o engenheiro responsável pela valiosa contenção e ele sempre afirma que o rio voltará para seu leito anterior.

Como leigos que somos: se ele conseguiu autorização do IMA para cavar a praia e fazer o dique, por que não a consegue para abrir a foz antiga e salvar várias casas? Resposta do técnico: “Dou a estrutura toda, máquinas e mão-de-obra, para quem quiser se responsabilizar, mas não faço”.

Falo como moradora do Atlântico Norte, e tudo que digo é de minha inteira responsabilidade. O sofrimento é grande. Vejo o rio avançando em nossas casas e do outro lado surgindo uma obra faraônica.

Se o IMA autorizou a dispendiosa contenção e a Prefeitura vê e não toma providências, deduzo que a responsabilidade por tão grave crime ambiental é dos dois órgãos.

Estou afirmando, de público, que perderemos nossas casas por conta do sonho megalomaníaco de um grupo estranho e desconhecido. Enquanto os responsáveis protegem seu patrimônio, até criando uma extensa faixa de praia particular, as águas avançam na maré alta destruindo o que se encontra em suas margens. De um lado, a ilha; do outro, as casas do Atlântico Norte.

Espero que a Prefeitura e os órgãos responsáveis pelo meio ambiente venham ver o que está acontecendo e protejam as vítimas de tão grave crime.

A ilha protetora está morrendo!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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