colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Fins de vida

03/08/2020 - 12:59

ACESSIBILIDADE


Já ouvi de uma cunhada: “Tudo que vem fácil, volta muito fácil”. E, com o passar do tempo, vou percebendo a pura verdade.

Nos anos 50 morávamos na Avenida Fernandes Lima, no Farol, em Maceió. Perto da nossa residência morava um casal, ele, homem de posses, dono de uma empresa de ônibus, com três filhos. Os adolescentes tinham de tudo e brincavam com a vida. Num determinado momento foram mexer com a empregada doméstica. Ela reagiu e eles a mataram. Foi um escândalo enorme e a vida da família mudou totalmente.

Morava ainda no Farol quando um moço rico casou com uma linda menina, filha de um parlamentar. Percebia-se facilmente que a moça estava casando sem gostar do noivo. Os anos foram passando e um belo dia o rapaz, acostumado a ter tudo, montou uma cena para provar que a esposa o enganava. Os jornais deram ampla repercussão ao caso. A mulher, com dois filhos, saiu de Alagoas e hoje vive muito bem, fora daqui. O homem, foi infeliz, perdeu tudo o que tinha e hoje, doente, mora na periferia de nossa cidade.

Tais fatos ocorridos no passado nos dão a certeza: é de pequenino que se faz o homem. Nem sempre as crianças ricas conseguem crescer na vida.

Em 1963, fui morar na Avenida Moreira e Silva e tive vizinhos maravilhosos. Um deles vindo de Pernambuco. Ele era representante comercial e ela simples dona de casa. Eu só tinha uma filha e ele ia lá em casa aplicar injeção na bebê. Fomos embora de Alagoas e voltamos em fevereiro de 1968. Reencontramos o casal já separado. Ele tinha feito horrores com a primeira mulher, que envergonhada, voltou para o Recife com os filhos. Nosso vizinho querido, muito infeliz num novo relacionamento, anos depois foi assassinado. O crime ainda não foi desvendado.
Um casal amigo separou-se por conta da bebida do marido. Ela refez a vida, casou-se outra vez. Ele bebeu tanto que virou morador de rua. Outro amigo, ainda meio aparentado, deu-lhe emprego e o trouxe ao convívio social. Mora só numa pensão, mas leva uma vida apenas razoável.

Existe em nossa cidade um empresário que já foi figura no mundo social. Arrogante, humilhava seus empregados. Entrou na política e começou a ser usado pelos correligionários. Quem ia para o seu partido queria dinheiro. Hoje, velho, falido, os filhos tentam interditá-lo. Poucos são seus verdadeiros amigos e poucos relembram seus vividos tempos dourados. 

Quando meu irmão Sabino foi eleito deputado estadual, levou com ele três candidatos na quota partidária. Poucos reconheceram isso. Um só, de Junqueiro, sempre que me encontra, fala no meu irmão e de sua gratidão por ele.

Tenho uma grande amiga, cujo pai era taxista e morreu muito cedo. Deixou viúva e filhos. Os amigos empregaram o mais velho e ele, inteligente, sabido, cresceu profissionalmente, chegando a ser secretário de Estado. Infelizmente morreu cedo, mas deixou a família muito bem. O menino pobre aproveitou a oportunidade proporcionada pelos amigos do pai.

Quando era adolescente, um vizinho nosso, deputado estadual, abrigou um colega que foi vítima de um atentado. O moço socorrido chegou a ser presidente do Poder Legislativo, mas morreu cedo bem longe daqui.
Alagoas é um lugar bonito, cheio de praias lindas e terras maravilhosas. Mas infelizmente, ainda ocorrem crimes políticos, muita corrupção e negras histórias, principalmente nas famílias de políticos, novos ricos, criando seus filhos como se fossem príncipes.

Fatos pitorescos, bem originais, acontecem e vamos observando o fim de cada um. Bons e maus exemplos se sucedem e, quase sempre o bem vence o mal. Pena que as pessoas envolvidas nos escândalos não entendam a realidade.

Talvez a herança política, aliada a sinais exteriores de riqueza, não seja saudável para as novas gerações.
É melhor deixar para os filhos uma boa educação!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato