colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Mulheres fortes

29/06/2020 - 13:07

ACESSIBILIDADE


Sempre ouvi dizer que a mulher é sexo frágil, mas conheci muitas delas que superaram a pouca força física e foram pessoas dignas de nota.

No tempo da minha mãe, elas eram criadas para casar e ter filhos. Alguns homens diziam arrogantemente: “Minha esposa jamais trabalhará fora de casa”! E poucas superaram tão forte barreira para ingressar no mercado de trabalho. Uma dessas exceções foi uma psiquiatra alagoana que condenou o eletrochoque, foi morar no Rio de Janeiro e ficou conhecida no Brasil e fora dele.

Professora era uma profissão exercida, na maioria das vezes, pelas mulheres e conheci várias mestras famosas. Algumas nascidas em 1920 e 1930, cujos maridos eram chamados de “Quincas”, pois supostamente eram sustentados pelas “Amélias”. 

Tive uma professora de Física Prática, médica e conhecida por sua força física. Casou-se numa idade avançada e nunca teve filhos, mas era identificada por ser médica, professora, dirigir o próprio automóvel e não depender financeiramente do marido.

Havia uma criatura nascida em 1916, mãe de vários filhos. Quando começou a colocar os meninos em colégios particulares, o marido disse: “Eu não posso pagar os estudos deles”. Ao que ela replicou: “Pode deixar, eu pago”. Só que ela não tinha renda!

Eu descia no bonde do Farol para o Instituto de Educação na Rua Barão de Alagoas e vinham comigo duas estudantes de medicina. Uma loira e a outra morena. Foram médicas famosas em Maceió e muito conceituadas.
Naquele tempo era raro um homem ser professor primário. Conheci um em Penedo, que casou com uma moça rica. Pois bem, a família dela não aceitou o casamento. 

Ela foi ajudar o marido trabalhando em casa: plissou saia, fez bolo para vender. Quando ele melhorou de vida, as filhas já eram moças e ele morreu bem de vida.
Na área política, ainda hoje as mulheres não atingem o número de vagas destinadas pela Justiça Federal para as candidaturas aos diversos cargos eletivos. Mas existem no Brasil parlamentares atuantes desempenhando seu papel com muita competência.

Quando casam e têm filhos, todas desempenham a dupla jornada de trabalho. Se um filho adoece, ou acontece algum acidente em casa, é sempre a mãe que corre para acudir. Criar filhos e trabalhar fora é tarefa complicada, apesar de o cenário estar pouco diferente. Os homens estão mudando!

Quando eu era presidente de Sindicato, uma companheira de outra entidade foi chamada reservadamente pelo governador. Levou umas pancadas e sofreu ameaças. Voltou para o movimento e continuou a lutar. Os dois estão vivos e devem lembrar do fato.

Entre as sindicalistas encontramos um bom número de mulheres. São umas lutadoras que enfrentam os dragões. No Poder Legislativo já ouvi de vários gestores as seguintes frases: “Você tem sorte, é uma mulher direita” ou “Se eu fosse presidente, não existiria sindicato”. 

Aconteceu um incidente na casa de uma vereadora, aqui em Maceió. No outro dia, estava no Palácio e ouvi várias figuras ilustres rindo. Aproximei-me delas e fiquei assombrada: diziam quem foi o autor do atentado e mandavam o governador descobrir e ir à imprensa justificar o ocorrido.

Alagoas é um estado pequeno, mas cheio de escritoras, médicas, advogadas, professoras universitárias. Infelizmente algumas tiveram que sair daqui, por falta de espaço. Foram vencer lá fora.

Recentemente, perdemos uma mulher maravilhosa. Vinda de Natal, no Rio Grande do Norte, trabalhou em nossa terra durante muito tempo. O que me encantava nela era a maneira de tratar as pessoas com muita gentileza. Era a coringa do governador e sempre estava onde ele precisava. Além disso era esposa, mãe e avó muito querida.

Dou um doce aos meus leitores se souberem os nomes das figuras tão conhecidas desta narrativa. São mulheres que se destacaram em épocas difíceis, mostrando ao mundo a força de Eva.
Tenho muito orgulho de mim mesma porque não me acomodei no papel de “Amélia”. Corri atrás de uma profissão e ajudei meu marido a criar quatro filhos.
Deus existe. Não duvidem.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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