colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Com raiva do vírus

08/06/2020 - 13:28

ACESSIBILIDADE


O ano de 2020 tem sido muito ruim. Trouxe com ele um tal de vírus que se espalhou pelo mundo inteiro e matou milhares de pessoas por onde passou.

No Brasil ele foi muito impiedoso. Não poupou ninguém e mexeu com as estruturas do sistema de saúde. Muitos morreram por falta de atendimento ou por causa do caminho fatídico do baixinho invisível.

A vida de todos nós se modificou por conta do coronavírus. A primeira atitude foi ficar em isolamento total. Daí, então, mãe não podia ver filhos, avó não podia ver netos. Tudo o que fazíamos naturalmente, deixou de ser feito. Eu e meu marido visitávamos sempre nossos filhos que moravam em lugares diferentes. Quando as saudades apertavam, lá íamos nós passar alguns dias com nossos rebentos. Ficávamos por lá dez, quinze dias, depois voltávamos para o nosso “paraíso”. No começo de 2020, vimos as quatro “pedrinhas de fogo”: conversamos, rimos, tentamos resolver problemas e ponto final.

Outro hábito frequente, de que ficamos privados, era almoçar com um irmão ou uma irmã num dia qualquer da semana. No domingo, eles e elas, os irmãos e as irmãs, vinham passar o dia no “Paraíso da Vovó Alari”. Manhãs e tardes felizes, cheias de alegrias, boas comidas, boas bebidas.

Temos um Sindicato dos Aposentados que fica na Praça Dom Pedro II. Diariamente, pela manhã, íamos “dar expediente” em nossa sala. Sabíamos das novidades, falávamos das proezas da Mesa Diretora, lanchávamos, ríamos, tentávamos resolver problemas criados pelos gestores. Aqui, acolá, um adoecia, outro morria. Podíamos visitá-los nos hospitais ou ir ao velório. Atualmente, não nos vemos, não rimos, nem choramos juntos. Tudo é feito pelo “zap” ou pelo Facebook, de maneira virtual.

Entrou o mês de junho: aniversário de meu filho mais velho que mora no Rio.Era viagem certa todos os anos. Apesar de saber que ele não gostava de festa, contentava-me em vê-lo, dar-lhe beijos, apertá-lo com força. Coisas de mãe! Este ano, meu 9 de junho vai ser de saudade e abraços virtuais.Ainda neste mês de junho teremos festas, quadrilhas, milho verde, alegria. Veremos tudo pela TV, não iremos às festas populares. Quem quiser aproveitar os festejos, vai dançar em frente à televisão ou se contentar com as lives. Para amenizar o sofrimento, faremos canjica, pamonha, pé de moleque para os dois velhinhos de 79 anos.Não há coisa pior do que saber que um amigo ou parente está hospitalizado ou morreu e só se contentar com notícias. Não podemos abraçar os familiares do falecido.

De vez em quando, vamos ao banco ou à farmácia e, tristemente, vemos as ruas vazias, pessoas de máscara, não nos deixando identificá-las.

As grandes datas de aniversário, batizados, tempos de companheirismo juntos, são celebrados de longe. Assim foi o Dia das Mães e será o Dia dos Namorados. Cantar parabéns só pela internet, abraçar um ente querido é coisa do passado. Eu que gostava de apertar as crianças, beijá-las, soprar o ouvido, contento-me em vê-los através de vídeo.

O mês de julho vem aí! Época de férias, casa cheia de filhos, netos e amigos. Este ano curtiremos o período de lazer sozinhos, eu e o companheiro de 57 anos.

Mas, fico procurando algo de bom no isolamento social e encontro: estamos gastando menos gasolina, evitando festas, não entrando nos “shoppings” para comprar nas lojas e, principalmente, não sermos contaminados.O isolamento está servindo para meditarmos um pouco em coisas supervalorizadas por todos nós e que hoje perderam totalmente a importância. Por exemplo: saber que um amigo ou parente estava doente, fazia aniversário e não ir visitá-lo. Hoje, não precisamos justificar, nem a criatura vai ficar ofendida. Apenas uma ligação, ou uma mensagem, já é suficiente.

Depois de velha, estou reaprendendo a dar menos valor à visita em certas ocasiões. O vírus está ensinando a todos: fiquem em casa! Não beijem, nem abracem outras pessoas! Usem máscara! Não cheguem perto uns dos outros.

A minha dúvida é: sairemos da pandemia melhores ou piores? Voltaremos a beijar os amigos?Só Deus sabe!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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