colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Nada mudou

27/05/2020 - 13:37

ACESSIBILIDADE


Já perdi um prêmio de melhor cronista do ano porque os julgadores acharam que escrevo demais sobre a Assembleia Legislativa de Alagoas. Fui processada várias vezes por que denuncio, há muitos anos, o Legislativo alagoano e os juízes acham que preciso apresentar mais provas, apesar de os repetidos escândalos que envolvem a Casa de Tavares Bastos serem públicos e notórios.

De repente, penso que estando perto dos oitenta anos, velha, como eles me chamam, preciso descansar e deixar que a corrupção continue grassando naquela Casa. Mas as injustiças são tantas que não consigo ficar calada. Quando vejo 900 comissionados receberem salários dobrados, sem cortes, sem redutor, minha língua coça.Os senhores deputados criam leis inconstitucionais, apesar de serem alertados pelos assessores, derrubam a mesma lei, mas continuam aplicando o ato inconstitucional apenas para os pagãos. Os afilhados recebem salários sem os cortes ilegais. E nada acontece!

O pior é saber que a lei inconstitucional foi redigida por um companheiro, ciente do erro que cometia. Alguns amigos alertaram o colega: “Avise à Mesa Diretora que não pode aprovar tal projeto”. Entretanto, a coragem foi pouca e o pobre coitado obedeceu ao insano deputado.Há vários anos estamos sofrendo, perdendo valores por conta do insensato dirigente. Quando algum servidor mais equilibrado o avisa para corrigir o erro, o dono da bola responde: “Não me fale nesse assunto!” E haja canetada sobre os pagãos.

O Legislativo alagoano vive num regime ditatorial. Só vigora a vontade do “rei”, cercado de “laranjas” que a ele obedecem cegamente.Os inativos são mantidos com um pé na Assembleia e outro no Alagoas Previdência sem a mínima segurança. Os dirigentes do órgão previdenciário aceitam de cabeça baixa as imposições do nosso “rei” desde 2015. Recebemos pelo Alagoas Previdência e nossa vida funcional se encontra toda, todinha, na Assembleia Legislativa. Longos anos de sofrimentos, humilhações e incertezas.

Administrativamente nada se resolve na Casa de Tavares Bastos. Lá existem dois caminhos: o da bajulação ou o processo judicial. A palavra mais ouvida da boca do Sr. Presidente é: Judicialize! Quando ganhamos na Justiça é outra novela para implantar o direito adquirido.

Outro dia ocorreu um fato interessante: a Mesa Diretora não abria mão de só pagar aos inativos no quinto dia do mês seguinte. As entidades representativas dos servidores lutaram para que todos, ativos e inativos, recebessem no mesmo dia. “Não posso”, dizia o dono da Casa!Um belo dia, estoura uma alegre notícia: os velhinhos vão receber seus salários até o último dia do mês corrente.Todos ficaram assustados com o milagre! Quem conseguiu tal feito? Quem foi o pai da criança? Aí, o presidente emocionado, respondeu: “Atendi ao pedido da mãe de um deputado amigo meu”. Todos os obstáculos caíram por terra!

De repente, descubro que tal lei inconstitucional, derrubada pelos próprios autores, está sendo aplicada apenas aos sem padrinhos. Lembro-me, então, da célebre frase: para os inimigos, a lei; para os amigos, as benesses.Temos três entidades representativas de ativos e inativos que lutam como podem, mas dependem da autorização do ditador. A elas meus respeitos e minhas condolências por terem que lutar com semelhantes dirigentes.E assim, vivemos nós, inativos da Assembleia Legislativa de Alagoas: um pé na Praça Pedro II e outro na Avenida da Paz.

E por favor, amigos da Justiça: Não me condenem mais; sou uma pobre velha, sofredora, injustiçada, com quase 80 anos.Deus existe. Não duvidem!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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