colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Economia desumana

30/04/2020 - 14:16

ACESSIBILIDADE


Desde que comecei a trabalhar no serviço público, o Brasil passou por várias crises financeiras e sempre o remédio para semelhante doença é cortar salários dos servidores. Quando aconteceu a ciranda financeira levando a inflação para mais de oitenta por cento, lembro-me perfeitamente do nosso sofrimento. Enquanto os salários dos funcionários federais acompanhavam a inflação, nós, pobres sofredores estaduais, tivemos as receitas diminuídas a 10% do valor total. Os planos de saúde cresciam assustadoramente e, no fim do mês, não podíamos honrar com nossos compromissos.

Collor, ainda governador, acabou com o funcionalismo, criando mecanismos aos quais ele próprio não obedecia. Antes de sair do governo, pagou fortunas a secretários e apadrinhados. Raspou os cofres públicos, saiu candidato à Presidência da República e deixou Moacir Andrade administrando um Estado falido. Nesse momento, o funcionalismo ficou acabado.

Entrou Divaldo Suruagy pelos braços do povo para gerenciar o buraco negro. Todos os meses, para pagar o funcionalismo, tinha que pedir empréstimo. Seu grande erro foi não ter mostrado ao povo das Alagoas que encontrou os cofres vazios e as dívidas grandes demais.

Divaldo saiu e deixou Mano para apagar a fogueira! O Legislativo, por sua vez, fingia que não era com ele e chegou a nomear 5.000 funcionários. Era uma loucura e Mano, graças a Deus, teve a ajuda do governo federal, criando o Plano de Demissão Voluntária. Milhares de servidores estaduais entraram no “conto do vigário” e ficaram sem emprego. Como sempre, a corda arrebentou nas costas dos mais fracos e fomos novamente vítimas de políticos maldosos.

É bom lembrar que, na época de Divaldo, devidamente assessorado por um visionário maluco na Secretaria da Fazenda, a folha de pagamento do Estado chegou a sete meses de atraso. Foi um verdadeiro escândalo: companheiros vendiam telefone, carro, casa para sobreviverem.

O Poder Legislativo naqueles dias, vivia fora da realidade: o presidente, um moço novo, sonhador, ousado, irreverente, nomeava pessoas indicadas por ele e pelos deputados, ignorando totalmente a crise por que Alagoas passava.

O Plano de Demissão Voluntária, coordenado por Luciano Barbosa, aliviou um pouco a situação dos cofres públicos.
Vieram outros governadores, que não puderam fazer um bom trabalho, mas as jogadas políticas se sucediam. Sempre os governantes e seus aliados lucravam e os sofredores públicos estaduais eram castigados.
Vez em quando, aparecia uma nova lei modificando a vida funcional das pobres criaturas. Corta daqui, tira dali e não se sabia o motivo. Graças a Deus, a Constituição Estadual autorizou a criação dos sindicatos e nos deu o direito de reclamar na Justiça.

Os dirigentes do Legislativo reagiram grosseiramente à nova situação e nossa luta começou. Durante todos esses anos vivemos impetrando ações judiciais para retomar o que nos tiraram. Pior de tudo: para a Mesa Diretora obedecer à Justiça é uma longa novela.

Recentemente, apareceram mais duas novidades: aumentaram a contribuição previdenciária de 11 para 14% e a forma de calcular o desconto para idosos doentes, isentos do Imposto de Renda, foi modificada para pior.
O Governo de Alagoas, com o pleno apoio do Legislativo, foi o primeiro a aprovar as loucuras do governo federal, modificando totalmente nossos direitos adquiridos.

Estou no fim da vida e ainda não encontrei um governante que achasse outro caminho para diminuir as despesas do Estado ou da nação!
Só Deus na causa!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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