ELEIÇÕES

Cristiano Matheus promete “transformar” Pão de Açúcar

Acusado de corrupção, ex-prefeito de Marechal mira município sertanejo
Por José Fernando Martins 10/07/2020 - 13:54

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Divulgação
O ex-prefeito de Marechal Deodoro Cristiano Matheus (MDB)
O ex-prefeito de Marechal Deodoro Cristiano Matheus (MDB)

A morosidade da Justiça e brechas da lei fazem com que candidatos fichas-sujas concorram livremente às eleições. E em 2020 não será diferente. O ex-prefeito de Marechal Deodoro Cristiano Matheus (MDB) é um dos que se aproveitam das falhas da Lei da Ficha Limpa. Retirado à força do cargo de líder do Executivo deodorense pela Justiça Federal em setembro de 2016, Matheus mira agora a Prefeitura de Pão de Açúcar, município sertanejo onde nasceu. No Instagram a campanha já rola solta. “Quero Pão de Açúcar com empregos e oportunidades para todos”, diz em uma postagem. Em outra: "Diga não ao atraso e ao de sempre. Chegou a vez do futuro. Do seu futuro!”.

E o narcisismo político continua: "Tenho a experiência para trazer as transformações que Pão de Açúcar precisa”. Isso porque, segundo ele, decidiu voltar para o município porque “eu sei como resolver os problemas daqui”. Uma das competências de Matheus é mostrada explicitamente como administrador da rede social apagando comentários negativos, uma vez que não há nenhuma referência - nas postagens - de internautas quanto à sua passagem conturbada em Marechal Deodoro. A reprovação popular ainda é uma ferida aberta que sangra na carreira política do emedebista. Em março deste ano, foi vaiado e recebido com gritos de "ladrão" por populares durante a inauguração de uma escola estadual no povoado de Massagueira.

Matheus, que é do mesmo partido do governador Renan Filho, foi convidado a fazer parte da frente de honra na solenidade e, no momento em que teve o nome anunciado, foi vaiado. Tentando amenizar a situação e defender o colega de partido, o governador afirmou em seu discurso que Matheus havia solicitado a construção de duas unidades para o município. Não adiantou e o governador acabou sendo também alvo de vaias. A revolta dos eleitores tem um motivo: o rosário de acusações de corrupção que o ex-prefeito enfrenta na justiça tanto estadual quanto federal.

ROSÁRIO DE ACUSAÇÕES

No Foro da Capital, tramita na 23ª Vara Cível da Capital / Família ação de execução de alimentos. O autor é o filho, de três anos, que o ex-prefeito teve com a publicitária Mayane Souza, que o acusou de expulsá-la de casa logo após dar à luz. No Foro de Marechal, processos de improbidade administrativa, crimes da Lei de Licitações e violação aos princípios administrativos. Atualmente funcionário da Assembleia Legislativa, Matheus enfrenta também a acusação de chefiar um esquema de lavagem de dinheiro e desvio de verbas que teria saqueado os cofres públicos de Marechal Deodoro. 

Investigação do Ministério Público Federal (MPF/AL) considera que os crimes teriam começado em 2009 envolvendo engenheiros, empresários, amigos pessoais e motoristas. E para a troca de dinheiro, ou de favores, era utilizada a empresa FP Construções. As negociações ilícitas consistiam em nomear funcionários da empresa em cargos na Prefeitura de Marechal. Também foi identificado que até a reforma de um apartamento teria sido bancada ilegalmente por dinheiro público. 

A FP Construções tinha uma série de regalias. Foi responsável pela reforma do Canteiro Central da Praça das Cocadeiras, no Povoado da Massagueira; pavimentação e drenagem de águas pluviais do arruamento do Loteamento Terra da Esperança; recuperação e construção da Orla Lagunar; terraplanagem de diversas ruas do município, entre demais obras.

Ainda conforme o MPF, Matheus mantinha relação bem próxima com a empresa. Como resultado, o desvio de verbas públicas teria se estendido à área da educação, através de verbas destinadas para do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e do Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (Pnate). Já em 2015, o ex-prefeito conseguiu interromper andamento de Comissão Especial de Investigação (CEI) instaurada na Câmara de Vereadores que investigava a situação do transporte escolar. 

De acordo com investigações, o total faturado pela quadrilha ainda é calculado pela Polícia Federal. No entanto, para se imaginar o valor, um dos proprietários da FP Construções movimentou mais de R$ 14 milhões em sete meses. O MPF acredita que Matheus tinha conhecimento de todos os desvios e crimes praticados durante sua administração. Em 2012, concorreu e venceu as eleições privilegiando com pavimentação áreas mais carentes do município. 

Em 2019, o Pleno do Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE-AL) decidiu manter a multa aplicada ao ex-prefeito em processo no qual foi condenado em 1º grau por conta de gastos excessivos com publicidade. A sentença que havia condenado Matheus foi proferida pelo juízo da 26ª Zona Eleitoral, por conta de evidências que comprovavam que o Município havia gastado mais de R$ 950 mil em publicidade em 2016, ano de eleições.

Ainda em 2019, a Justiça extinguiu o processo que determinava que o ex-prefeito devolvesse mais de R$ 17 milhões aos cofres públicos. A acusação contra Cristiano Matheus partiu da Prefeitura de Marechal. Na ação, o Município afirmava que enquanto prefeito, o político praticou atos de improbidade administrativa que resultaram em danos de R$ 17.544.871,77.

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