Na teia do Cachoeira

Demóstenes recebeu caixa dois de empresa ligada a Cachoeira, diz CPI

Documentos da CPI mostram que empresa fantasma depositou R$ 30 mil. Operação feita na campanha eleitoral de 2010 não foi declarada ao TSE
Por Do G1, em Brasília 28/08/2012 - 12:39

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Demóstenes recebeu caixa dois de empresa ligada a Cachoeira, diz CPI

Documentos obtidos pela CPI Mista que investiga as relações de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e empresários mostram que o ex-senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) recebeu R$ 30 mil de uma empresa ligada ao esquema do contraventor, durante campanha eleitoral de 2010. O depósito não foi declarado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A operação ocorreu em setembro de 2010, quando Demóstenes concorria à reeleição no Senado. O ex-senador, que teve o mandato parlamentar cassado por quebra de decoro parlamentar em julho, não foi localizado pela reportagem do G1 nesta terça-feira (28) para falar sobre os depósitos feitos para a sua campanha.

A Alberto & Pantoja, que, segundo a Polícia Federal, é uma empresa fantasma vinculada ao grupo de Cachoeira, teria efetuado o depósito para a empresa Comercial de Bebidas Rolim.

Em documento encaminhado à comissão mista no dia 24 de julho de 2012, Arlei Sousa Lacerda, responsável pela Comercial de Bebidas Rolim, afirmou que não sabia a origem do dinheiro recebido pela empresa. Segundo ele, o recurso foi para pagar despesas de campanha do então senador Demóstenes Torres.

O depósito foi comprovado por meio da quebra do sigilo bancário e fiscal da Alberto & Pantoja que foi encaminhado à CPI. A empresa é suspeita de receber recursos da Construtora Delta para suposta lavagem de dinheiro.

“Em atenção ao ofício de número 474/2012-CPI-Vegas cumpre-nos informar a esta comissão que o depósito de R$ 30 mil efetuado em conta da nossa empresa em 30 de setembro de 2010 e que só agora somos informados de sua origem, destinou-se a cobrir despesas de campanha em favor do então senador Demóstenes Torres, da qual participamos em nossa Cidade de Planaltina-GO”, disse o responsável pela empresa, em documento encaminhado à CPI.

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o repasse de recursos de R$ 30 mil não consta na prestação de contas feita pelo ex-senador. O comitê de campanha também não prestou contas do recurso recebido pela empresa de bebidas.

Afastamento
O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) designou o conselheiro Fabiano Augusto Martins Silveira como relator do pedido para que o ex-senador de Goiás Demóstenes Torres seja afastado do cargo de procurador de Justiça. Segundo a assessoria, ele teve acesso ao processo na noite de segunda (27). Há possibilidade do relator dar decisão ainda nesta terça sobre o pedido de afastamento.

No dia 20 de julho, Demóstenes reassumiu o cargo no Ministério Público de Goiás, após 13 anos longe da instituição e dois dias depois de ter o mandato de senador cassado em Brasília, no dia 11 de julho.

O pedido protocolado é uma representação para avocação de reclamação disciplinar, instauração de processo administrativo disciplinar e pedido de suspensão/afastamento cautelar de Demóstenes, enquanto durarem as investigações contra ele.

O advogado de Demóstenes Torres, Antônio Carlos de Almeida Castro, informou ao G1 na tarde de segunda que o ex-senador ficou sabendo do pedido de afastamento pela imprensa e que, assim que for intimado, apresentará sua defesa.

Cassado
Demóstenes Torres teve o mandato parlamentar cassado no último dia 11 de julho. Ele foi acusado de quebra de decoro parlamentar, suspeito de ter utilizado o mandato parlamentar para beneficiar os negócios do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Em votação secreta, 56 dos 80 senadores presentes votaram pela cassação, 19 foram contra e houve cinco abstenções. Com o resultado, Demóstenes se tornou o segundo senador cassado no Brasil; o outro foi Luiz Estevão, em 2000.

Com a cassação aprovada, Demóstenes Torres teve seus direitos políticos suspensos por oito anos a contar do fim do mandato parlamentar, que se encerraria em 2019. Dessa forma, Demóstenes só poderá voltar a disputar eleições a partir de 2027, quando tiver 66 anos.

Desde o início das denúncias, ele alegou que sua relação com Cachoeira, revelada em gravações da Polícia Federal, se limitaria à amizade e que não sabia de qualquer atividade ilegal.


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