Julgamento

'Nada disso ocorreu', diz advogado de Pedro Corrêa sobre o mensalão

Segundo denúncia, assessor de ex-presidente do PP recebeu R$ 700 mil. Defesa diz que PT repassou dinheiro para pagar advogado de ex-deputado
Por Do G1 PE 27/07/2012 - 07:39

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'Nada disso ocorreu', diz advogado de Pedro Corrêa sobre o mensalão

"Nada disso ocorreu", afirma o advogado do ex-deputado federal Pedro Corrêa, Marcelo Leal, referindo-se às acusações de formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro contra o seu cliente no processo do mensalão. O ex-deputado teve o mandato cassado com 261 votos, no dia 15 de março de 2006. A acusação contra o então presidente do PP foi de quebra de decoro parlamentar por ter autorizado o ex-assessor do partido, João Cláudio Genu, a sacar R$ 700 mil das contas do empresário Marcos Valério de Souza, suposto operador do mensalão.

 

O ex-presidente do PP se recusou a falar. Por telefone, Leal conversou com o G1 sobre o julgamento do mensalão, que vai começar no Supremo Tribunal Federal no dia 2 de agosto. Ele admite que o assessor de Corrêa recebeu o dinheiro, mas que era um repasse do PT para pagar advogado de um ex-deputado federal do PP do Acre e não para orientasse o partido a votar com o governo, como diz a denúncia. Confira os principais trechos da entrevista.

 

Qual a expectativa para o julgamento?
A expectativa é que o Pedro Corrêa seja absolvido.

 

O mensalão existiu?
Para a defesa de Pedro Corrêa, o mensalão não existiu, ou, se existiu, não envolveu a ele ou ao Partido Progressista.

 

Pedro Corrêa vai acompanhar o julgamento pessoalmente?
Por orientação nossa, dos advogados, vai acompanhar à distância.

 

O que a defesa tem a dizer sobre a denúncia de que Pedro Corrêa recebeu dinheiro do mensalão?
Nada disso ocorreu [as acusações de formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro]. Eles foram unindo assuntos. Se você isolar o item 6, onde está a denúncia que o PP está envolvido, não tem nada a ver com Dirceu, Delúbio. A impressão que dá é que o Ministério Público foi juntando assuntos para poder dar os 40 [indiciados]. Há denúncias de que o PP teria recebido dinheiro do PT pagar campanhas do Paraná. Pedro Corrêa não tem nada a ver com o Paraná. Ele era presidente do partido, mas não tem relação nenhuma com o Paraná. Quem tinha era Janene [José Janene, ex-deputado federal que também teve o nome envolvido no caso do mensalão. Janene faleceu em 2010].

Mas Pedro Corrêa teve o mandato cassado pela Câmara por ter autorizado o ex-assessor do partido, João Cláudio Genu, a sacar R$ 700 mil das contas do empresárioMarcos Valério de Souza...
O que há de fato são dois recibos assinados por João Cláudio Genu [então assessor de Janene], de R$ 700 mil. Tratam-se de recursos repassados pelo PT para o PP para honorários do advogado de Ronivon Santiago, Paulo Goiás. [Santiago foi eleito deputado federal pelo PP-AC, mas teve o mandato cassado em 2004, sob acusação de compra de votos na eleição de 2002]. Isso foi comprovado com RPAs [recibos de pagamentos de autônomos].
O PP e o PT no Acre eram oposição, mas nacionalmente eram do mesmo grupo. Então, em 2004, havia essa incongruência. O PT batia em Ronivon no Acre. Então, o PT se comprometeu a fazer o repasse de honorários para a defesa de Ronivon Santiago. Foi isso que aconteceu.

A acusação diz que era para compra de apoio político...
A acusação é desconexa e absurda quando diz que era para fazer pagamento, para que o PP votasse a favor do governo. A acusação fala das reformas tributária e previdenciária. Mas desde quando Fernando Henrique apresentou as propostas, muito semelhantes, que o PP votou a favor das reformas. E o PP continuou votando como sempre votou. Durante a CPI, foi feito um estudo que relacionava a lista de Marcos Valério com as votações. E, estatisticamente, não existe relação. O PP, de todos os partidos da base, é o que menos votava com a orientação do governo. Em relação a Corrêa, esse índice é ainda maior, ele estava desobrigado de participar de todas as votações, porque era presidente do partido. Ele várias vezes divergiu, esteve ausente. Não há qualquer relação entre o suposto pagamento do mensalão e votações no Congresso.

 

Como ficou a vida política de Pedro Corrêa pós-mensalão?
Ele é médico por formação e pecuarista. Está levando a vida dele. Não ocupa cargo político. Agora, se ele exerce atividade política, não cabe a mim responder.

 

Qual o legado do julgamento?
O de que o direito penal é, na verdade, um instrumento de defesa do cidadão contra a força do Estado, exercido por meio da acusação e de que ninguém está acima da lei ou da Constituição, nem mesmo o Estado acusador.


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