Nacional

'Não serei condenado', diz Jefferson sobre julgamento do mensalão

Para ele, STF cometeria 'absurdo jurídico'. Julgamento começa no dia 2. Cassado, ex-deputado foi reeleito nesta quarta presidente nacional do PTB
Por Do G1, em Brasília 19/07/2012 - 06:16

ACESSIBILIDADE

'Não serei condenado', diz Jefferson sobre julgamento do mensalão

Delator do mensalão, maior escândalo do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, afirmou nesta quarta-feira (18) ao G1 ter convicção de que será absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Jefferson é um dos 38 réus no julgamento programado para se iniciar no próximo dia 2. O dirigente partidário foi acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

"Não serei condenado. Não há condição de me condenarem. É um absurdo jurídico tão grande que penso que o Supremo não vai fazer isso", afirmou Jefferson em entrevista antes de ser reconduzido à presidência do PTB durante convenção nacional do partido em Brasília.

Ex-deputado federal, Jefferson revelou em 2005 o suposto esquema operado, segundo denúncia da PGR, por integrantes da administração Lula (2003-2010), entre eles o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. De acordo com a denúncia o esquema consistia em pagamento de propina a parlamentares em troca de apoio político para o governo no Congresso.

Batizado de mensalão, o escândalo resultou na criação de uma CPI e culminou na cassação dos mandatos de Dirceu e do próprio Jefferson.

Não serei condenado. Não há condição de me condenarem. É um absurdo jurídico tão grande que penso que o Supremo não vai fazer isso"
Roberto Jefferson,ex-deputado e presidente nacional do PTB

Em abril de 2006, o então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, denunciou 40 suspeitos de envolvimento no esquema, incluindo Jefferson. Depois, disso, o ex-deputado José Janene morreu e o ex-secretário do PT Silvio Pereira fez acordo com o Ministério Público - em troca da prestação de serviços comunitários, o processo dele foi suspenso. Dos 38 que restaram, o atual procurador-geral, Roberto Gurgel, pede a condenação de 36 e a absolvição do ex-ministro Luiz Gushiken e de Antonio Lamas, irmão de um dos réus.

O presidente do PTB é acusado pelo Ministério Público de ter recebido R$ 4 milhões do PT. Segundo os procuradores da República, a cifra teria sido desviada da administração pública com aval da cúpula petista a fim de comprar votos de parlamentares para aprovar projetos de interesse do governo. À época, o dirigente petebista integrava a base de apoio do governo Lula.

Jefferson afirma que, no momento em que detonou o escândalo, não tinha ideia da dimensão que a denúncia tomaria. "Pensei que seria uma luta política, mas nunca com esse desdobramento que vivemos hoje. Não imaginei que aquela denúncia pudesse atingir tanta gente e pudesse chegar aonde chegou. Até porque não tinha noção do volume de tudo, sabia apenas algumas coisas", disse.

Apesar do risco de ser preso em caso de condenação, o dirigente do PTB diz que não se arrepende de ter trazido à tona o suposto esquema de pagamento de propinas.

"Fiquei perplexo lá atrás com o tamanho da briga, mas como já estava nela não podia correr. Faria tudo outra vez", declarou.

A defesa de Jefferson alega que o petebista teria sido "injustiçado" ao ser denunciado ao lado dos outros suspeitos de terem se beneficiado de recursos desviados pelo mensalão. Segundo o advogado do ex-deputado, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, Jefferson teria sido uma "notável" testemunha de acusação.

"Para que não falasse, foi silenciado, sendo denunciado como co-réu em uma ação penal sem pé nem cabeça em relação a ele. É por isso que confiamos em sua absolvição", afirmou Barbosa.

Jefferson disse ter ficado "surpreso" ao ser relacionado como denunciado. Na avaliação do ex-deputado, ele teria sido sido incluído no rol de suspeitos por uma "questão política".

"Entendo que ele [Antonio Fernando de Souza] não podia denunciar os próceres do PT e me deixar de fora. Ficaria em uma posição política muito delicada. Então, me colocou no bolo para igualar a todos. Quis dizer é que todos são iguais perante a denúncia, que não há heróis", disse.

Reeleito
Nesta quarta, a cúpula nacional do PTB reelegeu Roberto Jefferson para o comando do partido por unanimidade. A eleição, realizada em um hotel de Brasília, assumiu contornos de ato de desagravo.

A escolha da nova direção, prevista para novembro, foi antecipada para esta quarta por sugestão do advogado de Jefferson no processo do mensalão, Luiz Francisco Corrêa Barbosa.

A proposta de reconduzir o dirigente para mais um mandato antes de o STF iniciar seu mais importante julgamento foi lançada em uma reunião da executiva nacional petebista.

Barbosa pretendia arregimentar apoio para demonstrar aos ministros da Suprema Corte coesão em torno de Jefferson. Tão logo foi colocada sobre a mesa, a ideia foi encampada por expoentes do PTB, como os senadores Fernando Collor de Mello (AL) e Gim Argelo (DF).

"A legenda (PTB) entende que me reconduzindo agora sinaliza ao Supremo que não sou um réprobo. Ao contrário, que sou um homem de prestígio, que tenho o respeito dos deputados, senadores, prefeitos e vereadores do PTB. Vão julgar um presidente de partido que tem o respeito da sua gente, de seus companheiros", afirmou Jefferson ao G1.

Assediado por militantes, que faziam fila para serem fotografados ao seu lado, Jefferson conduziu o encontro partidário como um mestre de cerimônias. Após comandar a entoação do hino nacional à capela, o delator do mensalão abriu os microfones para os colegas.

Presidente do PTB de São Paulo, o deputado estadual Campos Machado homenageou o líder da sigla. Ele pediu aos correligionários que se levantassem e dessem as mãos para homenagear o presidente do partido.

"É um homem de valor, de família. Não sairá pela porta dos fundos. Peço a Deus não apenas justiça, mas que a gente dê a ele [Jefferson] a confiança e o carinho que precisa de nós", defendeu o parlamentar paulista.

Em meio às palavras do deputado de São Paulo, Jefferson começou a chorar. O ex-deputado voltou a cair em lágrimas quando a filha, a vereadora do Rio de Janeiro Cristiane Brasil (PTB), anunciou o resultado da votação que o reelegeu para mais um mandato de presidente. Ele está à frente do partido desde 2003.

"É a primeira vez que o vejo chorar nesses sete anos, desde que eclodiu o mensalão. Essa eleição era a forma de sabermos se o partido tinha confiança nele", afirmou o advogado Barbosa.


Encontrou algum erro? Entre em contato