Corrupção
Brigas internas e caso Cachoeira preocupam legendas
Disputa entre correligionários e parlamentares sob suspeita de envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira podem provocar mudanças na reta final das indicações partidárias para prefeitoA cerca de quatro meses das eleições municipais, muita coisa ainda pode mudar na composição das candidaturas, embora a maior parte delas já esteja sedimentada na dinâmica interna dos partidos, em uma espécie de pré-campanha moldada ao sabor dos fatos. Um dos elementos determinantes para as escolhas das cúpulas partidárias, de olho nas respostas dos colégios eleitorais e da opinião pública, tem a ver com o caráter de “candura” dos pleiteantes, como denota o termo “candidato”. Assim, o que pode comprometer algumas candidaturas pretendidas será o surgimento de fatos que possam comprometer as suas imagens.
Três dos pré-candidatos à Prefeitura de Goiânia tiveram sua candidatura prejudicada, em maior ou menor medida, desde que vieram à tona os trabalhos de investigação da Polícia Federal nas operações Vegas e Monte Carlo, que levou à cadeia, entre outros, o contraventor Carlos Cachoeira. Chefe de uma quadrilha que explorava jogos clandestinos e fraudava licitações, entre outros crimes, Cachoeira tinha relações próximas com diversos agentes públicos e privados – entre eles o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e os deputados Jovair Arantes (PTB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO). Os três eram antes nomes certos para a disputa em Goiânia.
A candidatura de Demóstenes era tida como barbada – antes dele ser flagrado pela PF em escutas telefônicas como uma espécie de defensor dos interesses do contraventor Carlinhos Cachoeira no Parlamento, Demóstenes gozava de prestígio e incorporou o papel de símbolo da ética na política. Agora alvo de um processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética do Senado, o senador pode ter seu mandato cassado antes mesmo do início das eleições. Um adeus à candidatura que pode prenunciar o fim de sua trajetória no Legislativo federal.
Já Jovair e Sandes Júnior, que tiveram seu envolvimento com Cachoeira minimizado no transcorrer da comissão de inquérito em curso no Congresso, continuam pré-candidatos, embora chamuscados pelas denúncias veiculadas à exaustão pela imprensa nos últimos meses. Como é praxe em casos como esse, os adversários de ambos certamente usarão contra eles, durante a campanha eleitoral, o vasto material posto à disposição do eleitorado pelos veículos de comunicação.
Estrelas vermelhas. De raiva
Em disputas eleitorais, não é raro que correligionários esqueçam a ideologia compartilhada em nome da indicação para cargos eletivos. Em 2012, o caso mais evidente é o do petismo em Recife. De um lado, o atual prefeito, João da Costa, tentando a reeleição. De outro, um braço do PT personificado no ex-deputado federal Maurício Rands, que acabou por abrir mão de uma eventual candidatura, na última quarta-feira (30), em favor do senador Humberto Costa – que, por sua vez, diz só aceitar a disputa se for por meio de uma “convocação partidária”.
No centro de tudo, a Executiva Nacional do PT, que apontou irregularidades para anular a prévia realizada em 20 de maio, com vitória de 51,9% dos votos petistas a João da Costa contra Rands. Duas possibilidades passaram a ser consideradas: uma nova prévia seria realizada ou, sem consulta aos filiados, Humberto Costa seria o indicado por aclamação. Para tanto, a executiva nacional se valeria da nova norma que prevê homologação de candidatura em cidades com mais de 200 mil eleitores.
Na última quinta-feira (31), o prefeito petista desafiou a cúpula e resolveu manter sua candidatura, contrariando a decisão do petista-mor, o ex-presidente Lula, em lançar Humberto por aclamação, sem a realização de prévias. Um ato promovido por João da Costa com cerca de cem aliados foi o símbolo da manutenção do projeto de reeleição. Mesmo já advertido pela direção petista de que não seria registrado – e sob risco de expulsão –, João convocou a imprensa local e disse que passou os últimos três anos sendo vítima de “achincalhe” pelo próprio partido. O impasse persiste na campanha petista.
O noviço
Alheio às defecções partidárias, o recém-criado PSD, que tirou diversos integrantes do DEM, ainda busca o amparo de decisões da Justiça Eleitoral para reforçar suas pretensões eleitorais. Com 47 deputados e uma senadora – Kátia Abreu (TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura – no exercício do mandato, o partido sabe que pode se fortalecer ainda mais junto aos colégios eleitorais nas eleições de outubro, valendo-se do ativo das negociações de coligação e do poder de barganha na estrutura de instituições e máquinas públicas.
Com seus dez pré-candidatos, o PSD – criado e capitaneado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab – aguarda apenas a decisão do Tribunal Superior Eleitoral sobre seus direitos em relação aos recursos do fundo partidário e ao tempo de propaganda gratuita em rádio e TV. Em 16 de fevereiro deste ano, o partido sofreu uma derrota: por decisão do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), o partido não foi autorizado a indicar candidatos ou participar da escolha de presidentes de comissões temáticas nesta legislatura (2011-2014).
Como as composições de coligação ainda estão em curso, o PSD aposta no capital político reunido no maior colégio eleitoral do país, São Paulo, onde Kassab articulou e manteve a parceria vigente em suas épocas de DEM com o PSDB de José Serra, favorito nas pesquisas. Enquanto o PMDB quer se manter no posto de partido com o maior número de prefeituras, o PT almeja ultrapassar o comando de mil municípios e o DEM tenta se recompor das perdas para o PSD, este usa as cartas de sua considerável representação na Câmara para valorizar seu passe. Assim, busca se diferenciar das chamadas legendas “nanicas” que, com o objetivo de negociar nichos em chapas e no próprio governo, lançam pré-candidaturas sem muita expressão eleitoral.