Delegado depõe em CPI e confirma ligação de Perillo com Cachoeira

Na segunda sessão da CPI, o delegado responsável pela operação que prendeu Carlinhos Cachoeira deu um longo depoimento. Contou em detalhes como funcionava a quadrilha do bicheiro e deu o maior bate-boca do lado de fora.

O depoimento do delegado Matheus Mella Rodrigues acabou esquentando ainda mais o clima na CPI. Parlamentares que acompanharam a sessão secreta disseram que ele confirmou a ligação do governador tucano Marconi Perillo, de Goiás, com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Foi a segunda sessão, mais uma vez secreta. O delegado Matheus Rodrigues passou nove horas na CPI. Segundo parlamentares, disse que as casas de jogos do esquema de Cachoeira rendiam, por mês, pelo menos R$ 1 milhão. Desse montante, 30% ficavam com o bicheiro, que comandava a quadrilha.

O grupo, que atuava em Goiás, tinha planos de expandir os negócios para o Paraná. Ao todo, 13 empresas estavam ligadas ao esquema: três, de fachada, receberam dinheiro da construtora Delta, que tem muitos contratos com o Governo Federal. “São fatos novos que devem ser investigados, e a Polícia Federal recomenda essa investigação”, aponta o senador Alvaro Dias, líder do PSDB.

O delegado contou que a quadrilha foi investigada durante 11 meses e meio, 81 autoridades foram citadas nas quase 260 mil ligações telefônicas grampeadas com autorização da Justiça. O nome do governador de Goiás, Marconi Perillo, aparece mais de 200 vezes. Ainda segundo o investigador, Perilo e o bicheiro se encontraram pelo menos em dois jantares.

Parlamentares também disseram que o delegado contou que a casa onde Cachoeira morava e foi preso foi comprada de Perillo por um intermediário do bicheiro e que havia uma ligação da estrutura do governo do estado de Goiás com a quadrilha. “As informações de hoje tornam inevitável e urgente a presença o quanto antes do governador do estado de Goiás”, declara o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).

“Ele já se dispôs a prestar esclarecimentos à CPI, pediu à Procuradoria-Geral da República que abrisse inquérito e ele está disposto a prestar qualquer esclarecimento que seja necessário”, aponta o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).

A sessão da CPI foi acompanhada por advogados de três acusados de envolvimento com a quadrilha, apesar do protesto de alguns parlamentares que voltaram a falar sobre a vinda da comissão e do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para explicar a atuação dele nas investigações do caso Cachoeira, mas nada ficou definido.

O ministro Joaquim Barbosa do STF disse que Gurgel é intocável. O procurador recebeu também o apoio de Gilmar Mendes. “Estamos prestes de iniciar o julgamento do mensalão e que haja, então, talvez o propósito de desacreditá-lo, de deslegitimá-lo. Não é uma especulação indevida, porque isso parte de setores interessados em ver um quadro pelo menos pouco claro, turvo”, ressalta o ministro Gilmar Mendes, do STF.

A assessoria do governador Marconi Perillo disse que a casa foi vendida dentro da lei. Afirmou, ainda, que as menções ao nome dele não podem servir de referência para conclusões precipitadas sobre supostas relações indevidas e que, se for convocado pela CPI, vai depor.

No Rio de Janeiro, o Ministério Público pediu a abertura de inquérito civil público para apurar possíveis irregularidades na venda da construtora Delta, investigada por fraude, corrupção e superfaturamento, ao grupo J&F. O foco da investigação, segundo o procurador Nívio de Freitas Silva Filho, é a participação do BNDES na maior empresa da holding, a JBS.

A empresa J&F esclareceu, em nota, que a participação do BNDES na JBS não o torna sócio direta ou indiretamente de qualquer outra empresa controlada pela holding e que vê com naturalidade os questionamentos relacionados à negociação.