Duvidando do óbvio

CPI sobre influência de Carlinhos Cachoeira ainda é dúvida em Brasília

No Congresso, ninguém sabe dizer quantos parlamentares apóiam, de fato, a criação da CPI. A lista com assinaturas não apareceu. Para a oposição, representa um recuo dos governistas
Por G1, Bom dia Brasil 17/04/2012 - 09:50

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CPI sobre influência de Carlinhos Cachoeira ainda é dúvida em Brasília

O governador de Goiás falou, ontem à noite, sobre as gravações que apontam a influência do bicheiro Carlinhos Cachoeira em nomeações de servidores do estado. Marconi Perillo disse que, se houve contratação, a responsabilidade foi dos secretários.

No meio disso tudo, a dúvida é se vai haver ou não CPI. No Congresso, já se fala até em esperar o retorno do presidente da Casa, José Sarney, que está internado em São Paulo para, então, instalar a comissão.

No Congresso, ninguém sabe dizer quantos parlamentares apóiam, de fato, a criação da CPI. A lista com assinaturas não apareceu. Para a oposição, representa um recuo dos governistas.

O PT jura que quer investigação. “A CPI não é uma CPI contra o governo, não é uma CPI contra a oposição. É uma CPI que vai apurar o crime organizado dentro do estado brasileiro”, aponta Jilmar Tato (PT).

O PSDB já fala até em começar ouvindo a construtora Delta. A empresa é que mais recebe dinheiro da União e teria abastecido o esquema Cachoeira, segundo a polícia. “As relações da empresa Delta e de Carlos Cachoeira com o governo são inegáveis”, comenta o deputado Álvaro Dias (PSDB-PR).

O blog do jornalista Mino Pedrosa divulgou um áudio, no qual o dono da construtora Delta, o empresário Fernando Cavendish, fala do dinheiro necessário para pagar políticos. “Se eu botar 30 milhões na mão de políticos, eu sou convidado para coisas para 'c…'. Pode ter certeza disso. Te garanto”, diz na gravação.

Em nota, a empresa afirma que a conversa foi gravada clandestinamente em janeiro de 2009. O áudio teria sido editado por ex-sócios de uma empresa comprada pela Delta. Eles estão sendo processados por calúnia e difamação.

Além de ouvir a Delta, a CPI a ser criada já tem na lista de investigados dois governadores. O do Distrito Federal, Agnelo Queiroz do PT é um deles. Nessa segunda-feira (16), uma ONG entrou com o pedido de impeachment do petista. Ele é suspeito de envolvimento no esquema de Cachoeira, assim como o governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, citado em uma gravação feita pela polícia em 11 de abril do ano passado.

Carlinhos Cachoeira conversa com o ex-vereador do PSDB, Wladimir Garcez, que está preso. Ele, que seria o braço direito do bicheiro, fala que o governador de Goiás autorizou contratações de pessoas selecionadas por Cachoeira.

Wladimir: Então, é o seguinte: o governador liberou os negócios dele, e eu falei para ele que nós temos mais quatro pedidos. Esse de Anápolis, ele resolveu que vai lotar nas nomeações. Os de Goiânia, ele vai ver a questão de gerência aqui.
Carlinhos: Tá. Você põe a Vanessa numa. A Rosana pode ser um salário de R$ 2 mil. A Vanessa é gerência.

Em outro trecho, Wladimir comemora as nomeações e é elogiado por Cachoeira.

Wladimir: Nós estamos com sete pessoas só aqui.
Carlinhos: É o seguinte: Wladimir, você é o cara que mais põe gente nesse governo.
Wladimir: Agora, tem “uns carguinho” aí que nós vamos poder atender muita gente.

Na noite desta segunda-feira, o governador de Goiás negou responsabilidade nas nomeações. “Isso é de responsabilidade de quem fez as indicações, dos secretários. Eles têm liberdade para fazer as escolhas. Vou verificar se isso tem realmente procedência e vamos tomar as medidas cabíveis , disse Marconi Perillo.

O advogado do ex-vereador, Wladimir Garcez, não foi localizado para comentar o caso. O desembargador Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal, determinou ontem à noite a transferência de Carlinhos Cachoeira do presídio de Mossoró, no Rio Grande do Norte, para o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Segundo Tourinho Neto, a prisão de Cachoeira numa unidade de segurança máxima não se justifica, porque ele não representa risco para a sociedade e não cometeu crime hediondo.


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