PT abandona Sânia Tereza

Por 21/09/2011 - 00:00

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A brutal execução do vereador de Anadia, Luís Ferreira de Souza (PPS), vem provocando o revanchismo de alguns figurões do Partido dos Trabalhadores (PT). Depois dos indícios que apontam para o crime de mando promovido pela prefeita de Anadia, Sânia Tereza, o clima dos dirigentes da sigla partidária não foi mais o mesmo em relação a chefe do executivo local, que no pleito de 2010 não apoiou nenhum dos candidatos petistas.

As eleições de 2010 foram marcados pela incoerência em Anadia, pois é de domínio público que a prefeita, mesmo sendo filiado ao PT, apoiou para de-putado estadual Isnaldo Bulhões Filho (PDT) e para federal o empresário João Lyra (PTB). A famosa "dobradinha" que é constituída em todo Estado como o apoio dos prefeitos do interior a dois candidatos (deputado estadual e fede-ral) é uma prática comum, mas a prefeita não apoiou os nomes de peso do seu partido, como é o caso de Paulão e Pinto de Luna, candidatos a deputado fe-deral. Já no âmbito estadual ficaram fora do apoio Judson Cabral, Marquinhos Madeira e Ronaldo Medeiros, todos eleitos.

Sânia Tereza foi afastada do PT, decisão tomada na segunda-feira, 12, durante reunião da direção executiva do partido em Alagoas. A suspensão do quadro de afiliados da sigla da única prefeita do PT no Estado é temporária até a conclusão do inquérito policial que apura o assassinato do médico e vereador por Anadia Luís Ferreira, assassinado dia 3 de setembro.
Políticos do PT em Alagoas foram procurados para se pronunciar sobre o "abandono" a prefeita petista. Até o fechamento da edição a única liderança partidária que se pronunciou foi o deputado esta-dual Ronaldo Medeiros. Veja na íntegra o que ele disse:

Jornal Extra - É notório que Sânia no pleito de 2010 não rumou com os candidatos do PT. Ficou alguma magoa por isso?

RM - Não ficou nenhuma mágoa, apenas como partidária do PT a prefeita deveria ter apoiado candidatos do partido.

Jornal Extra - O afastamento, temporário, da prefeita tem algum revanchismo?
RM - Eu não participei da reunião que decidiu afastá-la. Em março e em abril defendi publicamente, inclusive na mídia o afastamento da prefeita, por não ter o perfil e não participar das atividades partidárias, além disso no seu mandato ela não vinha implementando as políticas públicas que o PT defende.

Jornal Extra - Sânia é a única prefeita do PT em AL. Caso a prefeita seja expulsa da sigla o partido fica enfraquecido?

RM - Não, o partido se enfraquece quando nos quadros existe gestores públicos que não atuam conforme orientação do partido, neste caso o partido se fortalece, quando atua e mostra na prática que não aceita desvios internos.

Jornal Extra - O que levou ao PT afastar Sânia? Ouve intervenção nacional do partido?
RM - Nós já estávamos discutindo isto internamente (em Alagoas, na executiva). A Executiva Nacional nunca opinou sobre o fato.

Jornal Extra - A prefeita foi comunicada do seu afastamento ou ficou sabendo pela mídia?
RM - Não, o partido enviou comunicado a ela após a decisão.

Sânia Tereza: histórico de corrupção

Em abril desse ano uma série de denúncias foram realizadas pelos vereadores de oposição do município de Anadia ao Ministério Público Estadual. Eles acusavam a prefeita Sânia Tereza Barros de cometer inúmeros atos de improbidade administrativa durante os três anos de mandato. Segundo os vereadores de oposição, na gestão de Sânia era comum a prática de apropriação indébita, pois retinha valores dos vencimentos dos servidores municipais que possuíam empréstimos consignados junto ao Banco do Brasil (BB).

O dossiê encaminhado ao promotor Maurício Amaral Wanderley, pelo presidente da Câmara de Anadia, José Adauto de Almeida Rocha (PSC), e protocolado por mais quatro vereadores: Amós Rocha (PTB), Fernando Pedrosa (PMDB), Neto (PPS), Deninho do Sindicato (PDT) e o presidente do PPS de Anadia, Dimas Almeida, contém revelações de uma gama de desmandos administrativos realizados por Sânia.

Em entrevista concedida ao jornal Extra, em abril, o líder do PPS, Dimas contou: "As denúncias da farra com o dinheiro público foram enviadas ao promotor de Anadia e ao procurador-geral de Justiça, Eduardo Tavares Mendes, e mais 10 instituições. O que acontece num município já pobre como Anadia é uma vergonha."

Dimas Almeida contou ainda que o esquema realizado pela prefeita é escandaloso. "Os servidores pediam empréstimo e era descontado na folha salarial um percentual do vencimento, mas a prefeitura não repassou os va-lores ao Banco do Brasil, lesando centenas de funcionários da cidade."

Na mesma reportagem do jornal Extra foi narrado: foi averiguado pelos vereadores de oposição de Anadia a falta de licitações para aquisição de combustível aos veículos oficiais. O termo de denúncia entregue ao MPE diz que "requisitamos a Vossa Excelência (Sânia) que seja encaminhada a cópia de todos procedimentos licitatórios ou de inexibilidade (incluindo empenho, notas fiscais, recibos de pagamento, cópias de cheque e outros documentos correlatos) realizados por esse município, referente ao exercícios de 2009 e 2010."

Câmara de Anadia afasta prefeita l


Desde a segunda-feira, 12, a prefeita Sânia Tereza se encontra presa, e por esse motivo a Mesa Diretora da Câmara Municipal de Anadia decretou na quinta-feira, 15, o afastamento da chefe do executivo e a posse do vice-prefeito José Augusto Rocha (PPS), primo do vereador Luís Ferreira. A motivação do seu afastamento foi tomada porque o município não pode ficar sem prefeito por mais de 15 dias. Como a prisão é de caráter temporário de 30 dias, os 15 dias devem ser extrapolando. A posse do novo prefeito tem como marca estabelecer a ordem na cidade.
O CASO - O vereador, médico e professor universitário Luís Ferreira de Souza (PPS), 61 anos, foi executado com tiros de pistola 9 mm, quando retornava a Anadia, no sábado, 3, horas depois de anunciar em um programa de rádio, na cidade de Maribondo que era candidato a prefeito do município de Anadia.

Pelo que se sabe, o vereador tinha vasto serviço prestado à comunidade e não tinha inimizades. Mostrava, tão somente, seu desejo de disputar a prefeitura de Anadia, mas a quantidade de tiros - 13 - confirma que os pistoleiros tinham ordem para matar o médico, que trafegava sozinho, de Maribondo para Anadia, quando foi interceptado a pouco menos de 2 km de Anadia.
O sonho de Luís ficou no meio do caminho. Mais um crime de pistolagem põe fim a vida público de um político em Alagoas. A sociedade anadiense espera que o crime não some às fileiras das mortes insolúveis, como o assassinato do prefeito de Roteiro, Val de Agenor (2006), e do vice-prefeito do Pilar, Beto Campanha (2007).

O médico e professor universitário, Luís Ferreira, é o primeiro vereador assassinado em Alagoas este ano. Em 2010, Genivaldo Barbosa da Silva foi morto a tiros no meio da rua na cidade de Roteiro. Ele era acusado de matar o prefeito, Edvaldo Santos, em 2006. Por falta de provas, foi liberado da prisão.

Em 1º de outubro de 2007, o vereador Fernando Aldo, de Delmiro Gouveia, foi morto a tiros em Mata Grande, após deixar o camarote de uma festa. De acordo com a Polícia Civil, o mandante foi o deputado estadual Cícero Ferro (PMN) e a morte aconteceu, segundo as investigações, porque o vereador estava invadindo redutos políticos do parlamentar, no interior do Estado.

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