Governo não presta conta de doações para vítimas das enchentes

Por 17/08/2011 - 00:00

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O governo ainda não prestou contas da arrecadação financeira em prol das vítimas das enchentes que atingiram 15 municípios do estado em junho do ano passado. Contas bancárias foram disponibilizadas na Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil para receber doações de todo o país. Apesar disso, famílias que tiveram suas casas destruídas terão que pagar pelas novas residências.

A tragédia que deixou centenas de desabrigados foi amplamente noticiada pela imprensa nacional e as contas destinadas a receber doações em dinheiro foram divulgadas por diversas redes de televisão, o que leva a crer que pessoas de toda parte do Brasil teriam feito doações. Para se ter uma ideia, quando houve a primeira tragédia em Santa Catarina, no sul do país, apenas um instituto filantrópico conseguiu arre-cadar mais de R$ 10 milhões, que foram utilizados na construção de casas para os atingidos pela cheia.

Em Alagoas, todo o dinheiro doado espontaneamente pela população local e de outros estados foi destinado à Defesa Civil, órgão ligado ao Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas (CBMAL). Até mesmo as doações arrecadadas por igrejas e instituições locais, financeiras ou em bens materiais, foram repassadas para o órgão. O montante até hoje é desconhecido pela população, que também não sabe em que foi aplicado os recursos provenientes de ações filantrópicas.

As doações foram depositadas na conta 955-6, operação 006, agência 2735 da Caixa Econômica Federal e 5241-8, da agência 3557-2 do Banco do Brasil. Os bancos públicos informaram através de ofício e da assessoria de imprensa que não podem revelar o valor arrecadado. As instituições explicaram que as contas foram criadas a partir de solicitação da Defesa Civil e, portanto, a responsabilidade sobre a administração dos recursos cabe ao órgão ligado ao Corpo de Bombeiros. Tanto a Caixa como o Banco do Brasil teriam apenas ajudado na captação das doações.

A reportagem tentou entrar em contato por diversas vezes com a Defesa Civil, mas inicialmente as ligações não eram atendidas. Nesta semana a assessoria de imprensa do órgão avisou que o responsável pelas doações seria o coronel Gilson Romeiro, secretário executivo da Defesa Civil. Entretanto, o número telefônico que foi disponibilizado encontra-se continuamente desligado.
DESVIOS E INCÊNDIO - A imagem do Corpo de Bombeiros já foi comprometida por vários incidentes envolvendo os donativos para os flagelados no passado. Alguns militares foram acusados de desviar mercadoria doadas que se encontravam em um galpão da Secretaria Estadual da Educação e Espore e até mesmo dentro do quartel da corporação.

Além disso, um incêndio destruiu cerca de 20 toneladas de donativos que estavam armazenados em um galpão no Jaraguá. O prejuízo foi estimado em R$ 12, 5 mi-lhões. Por causa do evento absurdo, o coronel Neitônio de Freitas, então comandante do Corpo de Bombeiro, foi alvo de uma Ação por Ato de Improbidade movida pelo Ministério Público do Estado de Alagoas (MP/AL). A denúncia do MP/AL revelou que o galpão não tinha condições para armazenar as doações, acusando o coronel de ne-gligência e omissão.

CASAS PAGAS - Não bastasse o sofrimento provocado pela tragédia e a pouca assistência do Poder Público, as vítimas das enchentes terão que pagar do próprio bolso a reconstrução de suas casas. Todas as novas residências estão sendo construídas com recursos do programa do governo federal "Minha Casa, Minha Vida". Nenhum recurso doado pela população alagoana ou dos outros estados será utilizado na cons-trução das novas moradias dos flagelados.

A Secretaria de Infraestrutura do Estado de Alagoas (Seinfra) explicou, através de sua assessoria de imprensa, que o governo estadual "solici-tou ao Governo Federal a isenção das mensalidades para as famílias de baixa renda". Mas ainda não houve uma resposta sobre o assunto e muitos terão que pagar pelas casas reconstruídas. "O programa Minha Casa, Minha Vida é um programa de financiamento do Governo Federal e foi o único recurso disponibilizado para agilizar a recons- trução das 17,6 mil casas nos municípios atingidos pelas enchentes, já que o Estado da Alagoas, tampouco os municípios atingidos, não dispõem de recursos financeiros suficientes para garantir a recons-trução imediata de uma quantidade tão grande de imóveis", alegou a Seinfra.

A promessa é de que as casas começarão a ser entregues em outubro deste ano, mas até lá a população continua vivendo nas tendas adquiridos pelo governo estadual. Como já foi massivamente divulgado pela imprensa, os locais nos quais foram montadas as barracas são precários e muitas vezes faltam estruturas básicas para uma qualidade mínima de vida, como água e saneamento básico.

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