Internacional

Papa diz a Peres e Abbas para terem “coragem” para fazer a paz

Francisco disse que não é um mediador. Ofereceu "a sua casa", o Vaticano, para uma tarde de orações pelo Médio Oriente. O israelita pediu a "paz entre iguais". O palestiniano um "Estado soberano e independente".
Por 09/06/2014 - 10:47

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Uma iniciativa de fé e não política, baseada apenas no poder da oração – é assim que o Vaticano apresenta o encontro deste domingo, uma reunião sem precedentes de três líderes para rezar pela paz no Médio Oriente. O presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, e o líder israelita, Shimon Peres, juntaram-se ao Papa Francisco nos jardins do Vaticano (onde não há símbolos religiosos visíveis) para rezar pela paz.

O Papa pediu a ambos os líderes “coragem” para fazer a paz, dizendo que “é preciso mais coragem para fazer a paz do que a guerra”. “É preciso coragem para dizer sim às negociações e não às hostilidades, sim ao respeito dos acordos e não às provocações, sim à sinceridade e não à duplicidade”, disse Francisco. “Senhor, desarma a língua e as mãos! Que o estilo da nossa vida sejashalom, paz, salam!”

O Presidente Shimon Peres, pelo seu lado, disse desejar “uma paz entre iguais” para israelitas e palestinianos. “A nossa missão é conseguir levar a paz aos nossos filhos.”

Já Mahmoud Abbas fez uma oração mais directa: Pela "paz global e justa para o nosso país e para a nossa região”, que dê "a liberdade no nosso Estado soberano e independente.”

O Vaticano procurou equilibrar um baixar de expectativas com entusiasmo. “Ninguém é suficientemente presunçoso para achar que vai haver paz na segunda-feira”, comentou um dos responsáveis pela organização do encontro, Pierbatista Pizzaballa.

O próprio Papa tinha dito que não queria mediar negociações – as que foram promovidas pelo secretário de Estado norte-americano, John Kerry, acabaram de ruir depois de Israel se retirar após um acordo interpalestiniano do qual saiu um Governo entre a Fatah, de Mahmoud Abbas, e o Hamas, considerado por Israel e pelos EUA um movimento terrorista. Mal aterrou em Roma, Peres fez questão de falar sobre o novo executivo. “Não vai durar, não se pode pôr água e fogo no mesmo copo”, comentou. “Uns apoiam o terrorismo, outros não.”

Mas os aliados diferem na abordagem, com os norte-americanos a defenderem pragmatismo em relação ao novo Governo e Israel a não o aceitar. O Estado hebraico anunciou ainda a construção de mais 3200 casas em colonatos, provocando a condenação de Washington.

“Este encontro não vai ser para fazer mediação ou encontrar soluções”, disse o Papa depois de ter convidado os dois líderes para “a sua casa”. “Só nos vamos encontrar para rezar. Depois vamos todos para casa”, explicou. “As medidas concretas terão de ser estabelecidas apesar da mediação. Para ser honesto, não me sinto competente para dizer que precisamos disto ou daquilo. Seria uma loucura da minha parte.”

Apesar das expectativas baixas, Pierbatista Pizzaballa (um franciscano que no Vaticano tem a pasta da Terra Santa) disse que “uma pausa para parar e respirar tem estado ausente há algum tempo” e que o encontro poderá “reabrir uma via que tem estado fechada, recriar um desejo, uma possibilidade, fazer as pessoas sonhar.” E acrescentou: “Nem tudo é decidido pela política.”

Comentando a iniciativa inédita e surpreendente do Papa - que convidou os dois líderes na sua recente viagem à Jordânia, Palestina e Israel) , Andrea Tornielli, que cobre o Vaticano para o jornal italiano La Stampa, disse ao Jerusalem Post que “este é um Papa que acredita verdadeiramente no poder da oração, de que esta pode ajudar a resolver os problemas mais intrincados”. Umtweet do Vaticano parecia confirmar esta visão. “A oração é toda-poderosa. Vamos usá-la para trazer a paz ao Médio Oriente”, dizia a conta o Papa no site de microblogging.

Há quem veja as coisas de outro modo: “Na América Latina, a ideia de intervenção papal é uma coisa natural”, comentou ao New York Times Philip Jenkins, professor de História no Instituto para Estudos Religiosos da universidade Baylor. O Papa argentino terá visto o papel do Vaticano na política da América Latina, por exemplo na mediação de uma disputa no final dos anos 1970 entre a Argentina e o Chile. Apesar disso, nunca antes tinha acontecido um convite para rezar conjuntamente no Vaticano aos líderes de duas nações envolvidas num conflito.

Esperava-se que após as preces, Peres e Abbas – que se conhecem já desde os acordos de Oslo de 1993 que ambos assinaram – se encontrasse e aí sim tivessem uma discussão política. No caso de Israel, Peres está em contacto com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, ele sim, o responsável que decide a orientação política em relação ao não existente processo de paz. Peres não só não tem qualquer palavra a dizer nesta matéria, como está quase a retirar-se da presidência.

 

 

 

 

 

 

 


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