PF prende diretores do TC por desvio de R$ 100 milhões da folha de pagamento

Por 26/10/2011 - 00:00

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A operação Rodoleiro deflagrada pela Polícia Federal (PF) na quinta-feira, 20, prendeu os diretores financeiro, Devis Portela de Melo Filho, e de Pessoal José Pereira Barbosa, do Tribunal de Contas do Estado de Alagoas (TC/AL). Ambos são acusados de desviar, desde 2005, mais de R$ 100 milhões através do esquema de lavagem de dinheiro, que tinha como fachada a academia de luxo, Top, situada no bairro da Pajuçara, em Maceió, e o haras Rancho Santana, localizado no município de Atalaia.

No haras, a PF aprendeu 102 cavalos, desses 42 de raça, que estão no nome de Devis Portela e outros que são tidos como laranjas, que não tiveram seus nomes revelados para não atrapalhar a continuidade das investigações. O diretor financeiro do tribunal é genro do conselheiro do TC, Isnaldo Bulhões, e cunhado do deputado estadual Isnaldo Bulhões Filho – acusado de participar da quadrilha da Taturana, que desviou mais de R$ 300 milhões da folha da Assembleia.

Existem indícios de que o haras Rancho Santana seria de Devis Portela em sociedade com o deputado Isnaldo Bulhões Filho. Além dos cavalos, cerca de 50 pássaros silvestres foram encontrados no haras e duas armas de fogo, uma pistola 380 e uma 357 Magnum. “Além do crime financeiro, uma agressão à fauna foi realizada”, destacou o superintende da Polícia Federal em Alagoas, Amaro Vieira.

O delegado federal responsável pela operação Rodoleiro, Antônio Miguel, explicou que as investigações apontam para o desvio de recursos públicos da folha de pagamentos do TCE/AL. “Só nos últimos dois anos as despesas pessoais foram superiores aos valores informados à Receita Federal em mais de R$ 30 milhões”, garantiu Miguel.

Desde 2005 a PF investiga a quadrilha que atua no TC. Outros nomes da Corte de Contas podem estar na mira da PF, já que essa é a primeira fase dos trabalhos. “A existência de fraudes foi confirmada nas restituições de imposto de renda de servidores do Tribunal de Contas de Alagoas, mediante a elevação indevida do Imposto de Renda retido na fonte – IRRF. Os recursos eram desviados do TC, e penhorados de forma errada, na compra de cavalos”, informou o delegado Antônio Miguel.

HOMEM DE CONFIANÇA
O esquema montado na academia Top tem o aporte de José Pereira Barbosa, diretor de Pessoal do TC e homem de confiança do conselheiro Isnaldo Bulhões, que desde quando foi secretário de Educação do Estado, no governo Geraldo Bulhões, leva José Barbosa para compor sua assessoria financeira.

Antes de comandar o setor de Pessoal, Barbosa foi diretor financeiro do TCE/AL e só saiu do comando quando o genro de Isnaldo Bulhões, Davis Portela assumiu a direção. O delegado Amaro Vieira disse que outras empresas de menor porte atuam no esquema de lavagem de dinheiro do Tribunal de Contas de Alagoas, mas no momento não pode revelar os nomes.

José Pereira Barbosa é conhecido pelo seu poderio econômico e os novos investimentos na política do município de Barra de Santo Antônio. Durante a coletiva de impressa na sede da PF, o superintendente foi questionado se uma empresa de tecidos, no bairro da Ponta Verde, também estaria ligada ao esquema criminoso, mas Amaro preferiu não responder, segundo ele para não atrapalhar as averiguações. Os indícios mostram que parentes de Barbosa agem como laranjas da quadrilha.

Ousadia criminosa
O 1º Leilão Virtual Alagoas Top Vaquejada seria realizado na próxima quinta-feira (27), na maior feira de agronegócio do Estado, a Expoagro. O nome Top no leilão não é mera coincidência, como apurou a reportagem do jornal Extra. É uma forma de associar as ligações criminosas entre a academia Top e o haras Rancho Santana, de Davis Portela, que o realizaria no Parque da Pecuária, através do leiloeiro, Anibal Ferreira Marcelino Júnior, às 20:30.

Entre os animais do Rancho Santana que estão escritos no leilão constam: Bryan Santana , Tuly Talent Pl , Barão Right Santana , Bambam Santana, Balboa Moon Santana, Miss Little Easy Jav, Frosty Glows e Mark Ifyou Can Capc. Os cavalos de raça do Rancho Santana não estarão no evento, devido à operação da PF, ou seja, um incômodo para os investidores e agropecuaristas que gostam da boa genética e animais selecionados.

O delegado Amaro Vieira explicou que a operação foi denominada de Rodoleiro por ser nome de uma espécie de carrapato encontrado em cavalos. “Como o esquema usava cavalos de raça para lavar dinheiro desviado do Imposto de Renda e estava lesando os cofres públicos demos o nome do carrapato para a incursão”, explicou.

Por fim Amaro disse: “rodoleiro é transmissor da febre maculosa. Alagoas está febril em virtude de uma doença chamada desvio de recursos públicos, corrupção”, contou Vieira.

Fonte do Tribunal nega mandado de busca e apreensão na Corte

Informações repassadas à reportagem do jornal Extra por uma fonte do TC garantem que nada foi apreendido no Tribunal de Contas do Estado; como computadores, documentos ou qualquer indício incriminatório contra qualquer funcionário do Tribunal.

Segundo essa mesma fonte, o TC liberou de imediato todas as informações solicitadas pela Polícia Federal, para ajudar nas investigações e no que for necessário. Os agentes da PF voltarão ao TC hoje, sexta-feira (20), para pegar mais documentos que estão sendo impressos no Tribunal para colaboração das investigações.

O presidente do TCE/AL, Luiz Eustáquio Toledo, está em Belo Horizonte para receber uma homenagem da Corte de Contas de Minhas Gerais e só deve retornar a Maceió nesse final de semana, quando tratará da Operação Rodoleiro. Ao retornar ao Estado Toledo divulgará nota de esclarecimento à imprensa. Até o fechamento da edição a Academia Top não se manifestou de forma oficial sobre o assunto.

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