Editorial

Por 24/08/2011 - 00:00

ACESSIBILIDADE


“A presidente Dilma Rous-seff considerou um "acinte" o uso de algemas pela Polícia Federal na ope-ração que prendeu suspeitos de corrupção no esquema descoberto dentro do Ministério do Turismo. Como se sabe, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pediu explicações "urgentes" à direção da PF (Gazetaweb, blog de Célio Gomes)". Sobre o mesmo assunto, Renan Ca-lheiros, do PMDB alagoano, disse: "Não podemos permitir que a Polícia Federal em seus excessos seja instrumentalizada politicamente. Claro que houve excessos e esses excessos acabam instrumentalizando a polícia" (Folha.com, dia 11).

"Preso um ladrão de galinha caipira. Algemado, foi jogado no camburão e colado em cela provisória da delegacia de Roubos e Furtos" (notícia hipotética publicada nos órgão de imprensa de Alagoas, ontem).

Ora, isto é um acinte, no entendimento da presidente Dilma Rousseff. Aliás, acinte é s.m: "Ato premeditado para magoar ou prejudicar alguém; provocação", segundo o o dicionário online de português. Ou, para o Wikcionário, é "ação premeditada para ofender". Ou, ainda recorrendo ao dicionário, excesso é s.m., aquela "quantidade que vai além da que é conveniente ou permitida. Coisa que passa além do que é permitido."

Ainda no campo da hipótese, nem a presidente nem o senador Renan Ca-lheiros dirão que é um acinte ou que houve excesso na prisão do ladrão de galinha caipira. E por que?
O joão-ninguém é um simples mortal homem do povo que, sem querer justificar, roubou ovos de galinha caipira para saciar a fome, ou mesmo tomar uma pinga, ou comprar drogas, ou comprar leite para um filho raquítico que tem junto a outros nove. A prisão, com algemas, do secretário executivo do ministério do Turismo, além de assessores e lobistas, excedeu o mínimo da condição humana, pois "homens de bem" não podem e nem devem ser presos. Mesmo se houver comprovação de seus roubos.

Então, aqui uma reprimenda à Polícia Federal, que em outroras eras prendeu e algemou deputados-tarturanas, prendeu e algemou prefeitos que roubavam merenda escolar (tirando comida de alunos necessitados para seus deleites). Ela, a PF, cometeu um acinte, como quer a presidente Dilma; ou cometeu um grande engano, se excedendo, como faz crer o senador de Alagoas. Aliás, os mais de 300 milhões roubados da Assembleia Legislativa (dinheiro do erário, isto é, do povo alagoano) não representam, pelo que se pode aquilatar, algo a que se chama de roubo. Foi um simples deslize, que não pode ser considerado, que não devia ter levado os ladrões à cadeia (mesmo que provisória), muito menos algemados. Um acinte à dignidade.

Que a Polícia Federal, ou qualquer polícia, esqueça os poderosos donos do poder, esqueça que Dilma Rousseff é presidente provisória (quatro ou oito anos) do país, que o senador representa o estado de Alagoas (não vitaliciamente) e cumpra os ditames da lei. Ladrão é pra ser preso, algemado e colocado no camburão, seja ele ministro, parlamentar, ladrão de galinha caipira. É ladrão e pronto.

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