ÍDOLO

Pelé completa 80 anos e se mantém como símbolo do Brasil

Por R7 23/10/2020 - 07:50
Atualização: 23/10/2020 - 08:48

ACESSIBILIDADE

Agência Brasil
Seu posto de melhor de todos os tempos continua intacto
Seu posto de melhor de todos os tempos continua intacto

Ele já abraçou o mundo, cumprimentou reis, parou guerras, fez adversários o reverenciarem, levantou arquibancadas com jogadas geniais e transformou estádios em teatros em que, no lugar dos xingamentos, se ouviram aplausos. Dobrou o mais rude torcedor e o transformou em lorde pleno de reconhecimento. Estabeleceu recordes, conquistou três Copas do Mundo, acertou o alvo com 1.281 gols, segundo a mais do que confiável IFFHS (Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol). Pelé, que comemora 80 anos nesta sexta-feira (23), se mantém como símbolo do Brasil.

De 7 de setembro de 1956, quando estreou no Santos, com 16 anos, a 1º de outubro de 1977, quando se despediu, no Cosmos, Pelé foi um ícone. Atualmente, está recluso. Pelé não vive de renda, apesar de ter sido o precursor do marketing no futebol, em sua então milionária transferência para o Cosmos e suas inúmeras propagandas. Continua com patrocinadores. Porém, Pelé vive, acima de tudo, de glórias.

Não que sua rotina, já sem que ele consiga se locomover com as pernas, seja monótona. Ele, que durante a carreira não sofreu uma única fratura, teve movimentos comprometidos em função de cirurgias por causa de fibrose e na coluna, entre outras questões de saúde. Costuma dizer que tais "contusões" ocorreram na hora certa, após o fim da carreira de jogador. Foram a conta, por exemplo, do esforço em conseguir chegar a 2,74 metros para um cabeceio.

O maior ídolo do futebol acompanha à distância tudo o que se passa em seu esporte e no mundo. Às vezes opina, como quando elogiou Cristiano Ronaldo por ter ultrapassado a marca de cem gols por Portugal. Mas está ligado, protegendo-se inclusive da covid-19. Nem a pandemia, porém, tirou sua majestade.

As primeiras declarações para os festejos do aniversário foram enviadas aos veículos de imprensa que engordavam os inúmeros pedidos de entrevistas. Foi só. Mas já o suficiente se considerado que veio de um rei. A voz tranquila e o jeito despojado continuaram como marca de um Pelé recluso pela pandemia do novo coronavírus e com dificuldades no caminhar.

"Se eu fiz alguma coisa que deixou alguém triste, alguma vitória que o Santos teve, que a seleção teve, que a seleção do Exército teve, todos os campeonatos que eu ganhei e jogos que ganhei, claro que o outro lado fica um pouco triste, isso é coisa da vida, me desculpem, mas agradeço de coração tudo o que ganhei na minha carreira", disse o Rei do Futebol.

Poderia parecer que os mais jovens estivessem apenas concentrados em Messi e Cristiano Ronaldo, dois astros dos últimos anos que estão longe de alcançar os feitos de Pelé. Mas seu posto de melhor de todos os tempos continua intacto quando se ouve um jovem, que nunca o viu jogar, perguntar, preocupado. "Como está o Pelé?" Ele está falando em um símbolo do País, cresceu ouvindo alertas para que não deixasse as peripécias as atuais celebridades da bola apagar tudo que a lenda fez.

O "Rei do Futebol", denominação que recebeu de uma revista francesa logo após a Copa de 1958, quando entrou no terceiro jogo e, até a final, marcou seis gols, é eterno. Mas o cidadão Edson Arantes do Nascimento, que veio ao mundo em 23 de outubro de 1940, em Três Corações (MG), agora percorre a chamada "feliz idade".

Seu rosto conhecido, ornado pelo cabelo em forma de leve topete, com dois olhos volumosos como duas bolas, pálpebras avantajadas, bochechas salientes dando curvatura à linha reta vinda da testa, em diagonal, ampliando seu sorriso de menino, porém, continua o mesmo. Assim como seu espírito ativo.

Pelé tem mesmo um ar de estadista. No dia em que recebeu a imprensa, em novembro de 2019, no Museu Pelé, para comemorar os 50 anos de seu milésimo gol, todo o cerimonial terminava com o êxtase de encontrá-lo no fundo de sua sala, sentado à espera de mais uma entrevista.

Era como se estivéssemos entrando em um túnel da história, cercados por um cenário secular, à beira do porto de Santos, sobre paralelepípedos e trilhas de ferrovias e ao lado de casarões dos tempos do café. Puro Brasil, de senhores, escravos, negritude, colonização, independência, futebol, cultura e identidade, resumidos na figura de seu ídolo maior.

A passagem de Pelé pelo futebol colocou o Brasil no mundo, de certa maneira. O País, antes, era visto como um território tropical, de belezas naturais e vasto litoral, sem, no entanto, causar impacto por suas façanhas culturais, esportivas ou por seus personagens que, por aqui, já esbanjavam riqueza criativa. Carmen Miranda, que espalhou sua musicalidade pelo mundo, havia sido uma exceção.

E, assim que ele se despediu do futebol, em um amistoso entre os dois clubes pelos quais atuou, Santos e Cosmos, em 1977, pode-se dizer que o futebol brasileiro ficou um pouco órfão. Claro que outros craques vieram, mas o vazio da ausência de Pelé gerou momentos de crise, movida, principalmente, pela exigência de o Brasil jogar sempre como se tivesse Pelé.

"Pelé se tornou uma figura marcante, inclusive como um símbolo da maior qualidade. Esse sentimento ficou presente no futebol brasileiro, como uma referência, uma meta de que temos de melhorar sempre, buscar o máximo, seja técnico, jogador e até em outras profissões", disse Tostão.


Encontrou algum erro? Entre em contato