BAIRRO AFUNDANDO
CSA pode receber indenização milionária da Braskem
Clube aguarda laudo oficial sobre causas do afundamento no Pinheiro e que pode afetar seu Centro de TreinamentoO Centro Sportivo Alagoano pode receber uma indenização milionária da Braskem devido a possibilidade de estar sendo afetado pelas atividades de mineração da multinacional, que explora minas de sal-gema na capital alagoana na região dos bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange. Neste último é onde está localizado o Centro de Treinamento do clube.
“Se o CT do CSA está na área afetada e mostrada no decreto de calamidade, ele deve sim ter direito a essa indenização caso seja comprovado que a empresa de fato está relacionada ao afundamento da região”, afirma o promotor de Justiça José Malta Marques, que faz parte da força tarefa que investiga o Caso Pinheiro.
O relatório final apontando as causas do afundamento no bairro está sendo elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil, e deve ser divulgado no dia 30 de abril.
A indenização pode sair do bloqueio bilionário que o Ministério Público do Estado de Alagoas (MPE-AL) e a Defensoria Pública Estadual pediram à Justiça de Alagoas no dia 2 deste mês. O valor de R$ 6,7 bilhões, segundo o pedido, será utilizado para indenizar os moradores e empresários da região onde foi decretado estado de calamidade pública pela Prefeitura de Maceió no final do mês de março. Porém, o juiz Pedro Ivens de França Simões, da 2ª Vara Cível da Capital, determinou o bloqueio de apenas R$ 100 milhões. A decisão foi mantida pelo desembargador Alcides Gusmão da Silva, do Tribunal de Justiça (TJ-AL).
A empresa é apontada por especialistas como uma das possíveis responsáveis pelo afundamento do bairro do Pinheiro com reflexos sobre o Bebedouro e Mutange.
Além da área ser demarcada como área de calamidade, como decretado pela Prefeitura de Maceió, um fato que chama atenção é que um dos poços de extração desativado funcionava dentro do Centro de Treinamento, localizado na principal via do Mutange, onde já pisaram ídolos como o cantor Djavan, que já jogou pelo clube, e o técnico do Palmeiras, o Felipão, que encerrou sua carreira de jogador no Azulão do Mutange.
Embora não tenha sido notificado oficialmente pelas Defesa Civil Estadual e Municipal, e nem apresente rachaduras, o local está dentro da zona de risco e a incerteza e espera por um laudo conclusivo por enquanto deixa a diretoria do CSA de mãos atadas.
Em recentes entrevistas coletivas, o empresário e presidente do clube, Rafael Tenório, afirmou que a construção de uma nova casa para o Centro Sportivo Alagoano só deve acontecer caso permaneça durante três anos seguidos na Série A do Campeonato Brasileiro, à qual conquistou acesso no ano passado e estreia no dia 28 deste mês ano contra o Ceará, em Fortaleza.
“Por enquanto não temos um plano B, estamos apenas esperando o laudo oficial sair para que possamos sentar e decidir o que fazer, caso realmente seja confirmada a possibilidade de termos que sair do bairro”, explicou Rafael Tenório.
Vale lembrar que MP e Defensoria solicitaram o bloqueio com base em várias evidências, dentre as quais estudos realizados pelo professor e engenheiro civil mestre em geotécnica Abel Galindo Marques e em uma entrevista dada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), no dia 25 de janeiro sobre rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, divulgada com exclusividade pelo EXTRA.
“Já conversamos com o secretário nacional de Defesa Civil, o coronel Lucas Alves, que está em Maceió, tratando de um assunto do afundamento de um bairro por questão de mineração também”, Jair Bolsonaro em entrevista à Rádio Brumadinho em 25 de janeiro.
O estudo elaborado pelo professor Abel Galindo revela que uma das causas para o bairro estar afundando aproximadamente 36mm por ano e se movimentando em média 3mm em direção à Lagoa Mundaú, que também banha o bairro do Mutange, seria a atividade de mineração desempenhada por aproximadamente 40 anos pela empresa.
Ainda segundo o estudo, a exploração dos poços de sal-gema pela Braskem teria desencadeado uma ativação de falhas geológicas em camadas profundas do solo. A exploração do aquífero também é outro fator que contribui.
Valores
Em relação a quanto está avaliado o Centro de Treinamento Gustavo Paiva, localizado numa área de aproximadamente 34.000 m², o cartola não revela, alegando que “não pode se falar em valores no momento visto que não foi divulgado o laudo oficial”, e reitera que até o momento, embora o CSA esteja na área de calamidade, só será tomada alguma atitude no momento em que for emitido o laudo.
Corretores imobiliários procurados pelo EXTRA estipularam um valor de aproximadamente R$ 180,00 o metro quadrado do CT, chegando a um total de aproximadamente R$ 6,2 milhões. O valor não leva em consideração as estruturas físicas do local, apenas o terreno.
Procurada pelo EXTRA, a Braskem reafirmou apenas que desde o início dos eventos no bairro do Pinheiro - epicentro dos problemas - vem colaborando junto às autoridades competentes na identificação das causas e que não há, até o momento, laudo conclusivo que demonstre a relação entre as atividades da Braskem e os eventos observados no bairro. “A Braskem reafirma seu compromisso com a sociedade alagoana e com a atuação empresarial responsável, e de seguir contribuindo na identificação e implementação das soluções”, diz a nota.